Quais as consequências de quem não se interessa e não participa da vida política

Sempre observei um persistente desinteresse de empresários e dirigentes empresariais sobre os assuntos políticos. Refiro-me à política tradicional. Aquela mesma, a de Brasília, dos estados e municípios. Os argumentos para o distanciamento são sempre os mesmos e, em sua maioria, remetem à insistente corrupção
, ao rocambolesco repertório, à eterna “lenga lenga” sem resultados concretos e por ai vai.

Sem dúvida alguma, são argumentos críticos mais do que legítimos. Existe, sim, engajamento nas questões socioambientais, ora por genuíno interesse e preocupação, ora por conta dos posicionamentos de marca e cuidados com a imagem. Existem também as legítimas contribuições para campanhas políticas.

Mas confesso que nesse aspecto nado contra a corrente e defendo o envolvimento político como caminho de sobrevivência e alguma preservação.

Preservação das mínimas condições para uma sociedade livre; preservação e resgate de valores caros que não desejamos que sejam esquecidos [considerando que muitos deles já foram liquidados]; preservação [e talvez conquista] do mínimo de espaço e voz ativa nos destinos desse país enorme que mantemos com o nosso trabalho, sacrifício e disposição ao risco.

A ciência política e a história [que sempre se repete] ensinam que a omissão pavimenta o caminho do absurdo, da barbárie e dos descaminhos. Ensinam ainda que o conforto fútil e a falsa sensação de inabalável prosperidade podem anestesiar e inibir os necessários enfrentamentos e conflitos tão ricos ao amadurecimento.

Acomodados, anestesiados e infantilizados pela falta de conflitos, nos tornamos uma massa fácil de ser conduzida e controlada.

Não defendo ânimos acirrados, nem a desconfiança [Juscelino Kubitschek dizia que “uma sociedade desconfiada é facilmente manejada”], mas anseio por maior participação, vigilância, senso crítico e combate à omissão.

Se com tudo isso você ainda não se convenceu da importância de participarmos da vida política do nosso próprio país, sugiro que leia a lista que publico abaixo com alguns bons motivos para tal:

  • A arrasadora e crescente carga tributária, acompanhada de total falta de contrapartida em benefícios públicos;
  • A antiquada legislação trabalhista;
  • O ambiente jurídico de absoluta insegurança;
  • A falta de incentivos para pesquisa e desenvolvimento;
  • A brutal desqualificação da mão-de-obra, resultando nos robustos [mas muitas vezes insuficientes] investimentos empresariais em capacitação e treinamento;
  • O crescente predomínio de alguns grupos e sociedades de classe [com ativa participação política] que preconceituosamente observam os empresários como inimigos a serem suportados e eventualmente combatidos;
  • A forte e resistente burocracia cartorial;
  • A instabilidade das regras institucionais;
  • Os investimentos em infraestrutura muito mais presentes em peças de marketing do que na vida real;
  • As reformar estruturais [Política, Previdenciária e Tributária] que aguardamos desde o início dos anos 90;
  • O alardeado [mas inexistente] combate à crescente corrupção;
  • O combate efetivo à criminalidade pouco observado no cotidiano comum, mas muito presente nos roteiros cinematográficos e em ações com forte objetivo midiático.

Esses são apenas alguns bons pretextos para um maior engajamento dos cidadãos. Há muito a ser feito e boa parte das mudanças depende também de nós. Ao tomar a sua decisão, pense na frase de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Até a próxima.

Crédito da foto para freedigitalphotos.net.

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Dois em cada dez jovens de 16 e 17 anos participaram das eleições presidenciais de 2018. Para eles, o voto não é obrigatório. Dois anos antes, na disputa municipal, foram três em cada dez votantes nessa faixa etária. Qual é o motivo dessa queda? Descontentamento ou negação da política? Menor interesse pela campanha presidencial? Essas perguntas, de difíceis respostas, são um sintoma de uma questão maior que pode ser desvendada este ano, na inédita campanha eleitoral feita quase toda remotamente. A tabela abaixo demonstra o volume do jovem na política nas últimas eleições:

Jovens brasileiros nas eleições
Infogram

A internet e os meios de comunicação em massa são grandes aliados para chamar a atenção da juventude sobre a importância da participação política. Se os jovens estão conectados o tempo todo, sobretudo nas redes sociais, e a campanha eleitoral se concentrar nesse ambiente digital, então é de se esperar uma maior participação, certo? As plataformas repercutem rapidamente as notícias e espalham as propostas dos candidatos com uma comunicação mais direta, baseando-se inclusive no fenômeno mais recente das lives, que aumentou exponencialmente durante a quarentena.

Todos os dias o Brasil é bombardeado com notícias de escândalos, corrupções e burocracias. Isso tem afastado o jovem e qualquer eleitor que tenha um mínimo de boa vontade para com a política. Uma consequência é o número de abstenções cada vez maior nas eleições [20,3% do eleitorado em 2018 e 19,2% em 2016]. “Precisamos mudar essa cultura de pensamento político, e isso passa pela questão da reforma educacional, da forma como se debate os temas em sala de aula”, adianta o presidente da União Nacional dos Estudantes [UNE], Iago Montalvão, em entrevista exclusiva à Factual900. Ele e sua entidade estudantil defendem uma radical modificação no sistema de comunicação brasileiro como forma de melhorar a qualidade da democracia. “Temos uma comunicação profundamente concentrada em poucas mãos e uma internet que espalha muitas informações falsas.”

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O desafio de ocupar o poder

Jovem de 19 anos relata ter sido detida depois de protesto no Largo da Batata

“Balbúrdia” pela educação

Em 2019, grandes mobilizações de rua como as do tsunami da educação e da defesa do Enem trouxeram os estudantes de volta para a política, na visão do presidente da UNE. “Esse interesse fará com que os jovens se aproximem dessa eleição, até por entender que já é um preparatório para 2022”, diz.

Mas, para o consultor político Álvaro Maimoni, ouvido pela Folha de S.Paulo, essa aproximação já vinha se intensificando desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Para ele, os jovens de 16 anos compraram a ideia de querer acabar com a corrupção.

Ataíde Roberto, de 32 anos, representante da Bancada Resista do Psol, um partido com reconhecida adesão juvenil, lembra que não basta aguçar o interesse dos jovens para participar das eleições. “Eles se sentem mais atraídos pela política quando suas ideias e suas vozes são ouvidas por partidos e movimentos de renovação, o que abre espaço para o debate em relação ao incentivo à participação política”, aconselha.

Mateus Barbosa, 19 anos, membro do Universidade Vai às Urnas, um projeto que busca criar consciência política no ambiente universitário, afirma que os debates são uma forma eficaz de enfrentar a não-participação do jovem na política. “Uma forma muito legal de saber em quem você vai votar é assistir a debates. E não só para conhecer o candidato em si, mas as ideologias que cada um defende, quais as pautas que eles atuam, o que eles sabem e não sabem. Porque é muito mais importante entender no que acredita para depois escolher um candidato que defenda isso”, afirmou à Factual900.

Como inserir o jovem na política

“Investimento na educação! Não precisamos de uma escola de políticos, mas mostrar que a participação é importante e que os grêmios estudantis são um exemplo da contribuição do jovem no meio social”, acrescenta Ataíde. Iago Montalvão, da UNE, complementa: “O movimento estudantil cumpre um papel além da defesa por nossos direitos. Ele ajuda na compreensão do aluno como ser coletivo e busca construir mudanças, dando experiência na luta política”.

E o que pensam os jovens eleitores? A reportagem da Factual900 promoveu uma mesa-redonda com um grupo de eleitores de primeiro voto. Vivian Ramos, 18 anos, quer estudar psicologia ou medicina e fazia o cursinho da Poli, mas teve de parar por conta da pandemia. Para ela, os atuais governantes e políticos com ou sem cargos recorrem aos jovens na busca pelo voto, mas não se esforçam para que eles realmente ingressem nesse campo. Porém, a resposta a isso pode ser dada pelos próprios jovens. “O Brasil e muitos países da América Latina com uma situação parecida com a nossa têm uma aversão à política, que é interessante para a classe dominante. O brasileiro tem de começar a estudar e gostar de política não por obrigação, mas pela necessidade de saber o seu futuro”, ensina ela.

Ouça abaixo o podcast da Factual900 com jovens de diferentes posições políticas sobre as eleições atípicas deste ano.

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