O modelo atual de crescimento econômico gerou uma série de desequilíbrios. Se por um lado, há tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental, o desperdício e a poluição vem aumentando a cada dia.
Diante disso, surge a ideia do desenvolvimento sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, trazer o fim da pobreza no mundo.
Por isso, é necessário haver ferramentas ou indicadores que permitam a identificação de padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerem aspectos técnicos, ambientais, econômicos e sociais.
Existem diversos indicadores criados para traduzir o grau de sustentabilidade, tanto do ambiente urbano quanto de outras atividades antrópicas, como o Barômetro da Sustentabilidade, indicadores de origem ecológica, Painel da Sustentabilidade, dentre outros.
Mais do que nunca as cidades brasileiras estão desafiadas a “casar” a gestão urbana e a gestão ambiental, integrando as políticas de planejamento urbano, a política habitacional e a política ambiental, ou seja, o desenvolvimento possui um novo paradigma que inclui a necessidade de qualidade de vida social, econômica e ambiental para as presentes e futuras gerações.
ALFONSIN, 2001.
Entre eles, notam-se os indicadores de origem ecológica, os quais compreendem a disponibilidade dos recursos naturais, tais como: áreas bioprodutivas [agricultura, silvicultura, pastagem, marítima, etc.], minerais, água, assim como a qualidade do solo, ar, a biodiversidade, dentre outros.
Um desses indicadores é a “Pegada Ecológica“.
Esse indicador foi criado no Canadá no inicio dos anos 1990 pelos pesquisadores William Ress e Mathis Wachernagelcomo forma de suprir a demanda por indicadores ecológicos [indicadores estes que compreendem os limites da ecosfera].
Mas afinal, o que é Pegada ecológica e como podemos utiliza-lá?
O que é Pegada Ecológica?
A Pegada Ecológica é compreendida como uma metodologia de contabilidade ambiental que tem como objetivo avaliar a pressão do consumo da população humana sobre os recursos naturais.
- Pegada Ecológica. Fonte: Pixabay.
Wachernagel e Ress [1996] destacam que:
A pegada ecológica não é apenas a definição da população para uma determinada área geográfica, mas sim, o cálculo da população necessária para que um determinado sistema se mantenha indefinitivamente em um espaço.
Segundo o WWF [2012], a pegada ecológica de um estado, cidade, país ou pessoa corresponde ao tamanho das áreas produtivas terrestres e marinhas necessárias para sustentar um determinado estilo de vida, em outras palavras, é uma forma de traduzir em hectares, uma extensão de território que uma pessoa ou sociedade possam morar, se alimentar, locomover e se vestir, por exemplo.
Ela é geralmente expressa por hectares globais [gha]* e permite comparar diferentes padrões de consumo e ainda verificar se os mesmos encontram-se dentro da capacidade ecológica.
OBS:* Um hectare global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano.
O objetivo da pegada ecológica é verificar se o consumo e a biocapacidade* estão em equilíbrio.
* Abiocapacidade representa a capacidade dos ecossistemas em produzir recursos naturais renováveis para o consumo humano e absorver os resíduos gerados pelas atividades da população.
Vale salientar que, para se obter a Pegada Ecológica, considera-se também a emissão de gases de efeito estufa [principalmente o gás carbônico – CO2] na atmosfera e a presença de poluentes no ar, na água e no solo.
Ela também contabiliza os recursos naturais biológicos renováveis como: grãos e vegetais; carne; peixe; madeira e fibras, dentre outros.
De acordo com o sétimo relatório “Planeta Vivo 2012” , publicação bianual do Fundo Mundial para a Natureza [World Wildlife Fund – WWF, 2012], o índice da Pegada Ecológica de 2,7 por pessoa, enquanto a biocapacidade disponível para cada ser humano é de apenas 1,8 hectare global.
Alguns países, como os EUA e a China, demandam mais que sua biocapacidade, se caracterizando como “países devoradores ecológicos”. Outros países, como o Brasil, são “países credores ecológicos”, pois ainda possuem mais recursos ecológicos do que consomem, e usualmente “exportam” sua biocapacidade para os devedores. No entanto, de acordo com o mesmo relatório, a média brasileira por pessoa já supera este patamar e está atualmente em 2,9 hectares globais por habitante.
Os 2,9 hectares globais por habitante referente a pegada ecológica brasileira indicam que o consumo médio de recursos ecológicos pelo brasileiro está bem próximo da Pegada Ecológica mundial.
Abaixo segue a lista dos países com maior pegada ecológica [REVISTA EXAME, 2016]:
- Emirados Árabes Unidos [10,7 hectares];
- Catar [10,5 hectares];
- Dinamarca [8,3 hectares];
- Bélgica [8 hectares];
- Estados Unidos [8 hectares];
- Estônia [7,9 hectares];
- Canadá [7 hectares];
- Austrália [6,8 hectares];
- Kuwait [6,3 hectares];
- Holanda [6,2 hectares];
- Macedônia [5,7 hectares];
- Letônia [5,6 hectares];
- Noruega [5,6 hectares];
- Mongólia [5,5 hectares];
- Singapura [5,3 hectares];
- Áustria [5,3 hectares];
Segundo INPE [2012], os resultados gerados por este indicador nos dá uma ideia de como um indivíduo, cidade ou país utiliza os recursos naturais, conforme os hábitos de consumo e estilos de vida.
No entanto, esse uso de recursos deve ser compatível com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. Os dados recentes mostram que estamos consumindo em média 50% a mais do que a capacidade de reposição do planeta. Isso significa que precisamos de um planeta e meio para manter nossos padrões de vida atuais [INPE, 2018].
Como diminuir a pegada ecológica?
Há várias formas de reduzirmos nossas pegadas ecológicas. Uma forma é a adoção de políticas de sustentabilidade ambiental em diversos setores.
Um exemplo destas medidas sustentáveis são as Ecovilas.
- Modelo de Ecovila.
Nas Ecovilas, duas ou mais famílias, dividem os mesmos espaços territoriais e juntas integram sua vida social [trabalho, agricultura, atividades culturais, dentre outros], tudo isso de maneira 100% sustentável.
Sendo que todas essas ações são desenvolvidas e controladas de forma a não agredir o meio ambiente. Todo o material utilizado para a construção das casas são materiais diferenciados [palha, barro, madeira].
Outro detalhe é que o uso de água e energia é controlado e ensinado aos mais jovens, que já crescem em um ambiente mais sustentável e com a educação ecológica facilitada. Essas ações reduzem consideravelmente o impacto da presença humana no local e, com isso, a pegada ecológica.
Além das Ecovilas, outras ações simples podem ser adotadas para reduzir a pegada ecológica [incluindo quem vive em centros urbanos], como por exemplo, o descarte correto de resíduos, reciclagem, uso consciente da água e o aproveitamento de resíduo orgânico para geração de composto [como é o caso do projeto Adubooo Criciúma].
Como Calcular a Pegada Ecológica?
O calculo da Pegada Ecológica é bastante simples, basta avaliar [por meio de uma pontuação] qual o impacto que sua alimentação, moradia, bens, serviços, transporte dentre outros tem sobre o planeta [calculo seu impacto clicando aqui].
Com a pontuação final gerada, você irá comparar em uma tabela contento o total obtido versus sua pegada ecológica. Vamos supor que sua pontuação resultou em valor menor que 150, você teria uma pegada ecológica menor que 4 hectares globais.
OBS: O teste ainda permite que você compare sua pegada ecológica com a de outros países.
Mas só existe esse tipo de Calculadora?
Não, hoje em dia, existem diversas calculadoras para estabelecer a sua pegada ecológica. Dentre as calculadoras utilizadas, há a Calculadora Islandwood; Calculadora WWF; Calculadora do INPE; e Calculadora Global Footprint Network.
Se aplicarmos esse cálculo para toda uma população de uma cidade, estado ou país, podemos usar a pegada ecológica para melhorar a gestão pública e mobiliar a população a rever seus hábitos.
Como já citado anteriormente, a Pegada Ecológica Brasileira é de 2,9 hectares globais por pessoa, isso significa que, se as pessoas do mundo todo consumissem como nós, seria necessário 2,9 planetas para nos manter.
Por isso, devemos mudar nossos hábitos, rotinas e o comportamentos com formas alternativas de consumo consciente.
E você, já calculou sua pegada ecológica? E o que você pode fazer para reduzir ela? Deixe suas observações nos comentários.
Referências: ALFONSIN, B. O Estatuto da Cidade e a construção de cidades sustentáveis, justas e democráticas. In: II Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente, Canela. Anais… Canela, 2001. CARDOSO, F. H. Meio ambiente e consumo. Coleção Educação para o consumo responsável. 1-62, 2002. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia cientifica. 4.ed. São Paulo: Makron Books, 1996. CHAMBERS, Nick. Sharing Nature’s Interest: Ecological footprint as an indicator of sustainability. London: Earthscan Publications Ltd, 2000. DIAS, G. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. As Dimensões Humanas das Alterações Globais – Um Estudo de Caso Brasileiro [Como o Metabolismo Ecossistêmico Urbano Contribui para as Alterações Ambientais Globais]. São Paulo: Gaia, 2002. REVISTA EXAME. Os 20 Países com Maiores Pegadas Ecológicas. 2016. INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Pegada Ecológica: Qual é a sua? INPE. São José dos Campos. São Paulo. 2012, 24 p. WACKERNAGEL, M.; REES,W. Our ecological footprint. The new catalyst bioregional series. Gabriola Island, B.C.: New Society Publishers, 1996. WWF. World Wildlife Fund. Living Planet Report. 2008. WWF. World Wildlife Fund. Living Planet Report. 2012.Fonte: Texto retirado do Blog 2engenheiros