Qual o principal produto que atraiu a vinda dos nordestinos para o acre

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O chamado ciclo da borracha pode ser dividido em duas fases. A primeira vai da década de 1870, quando o surto migratório ganha forma na região norte do Brasil, até os anos 1912, quando há uma retração da economia gomífera ocasionada pelo crescimento da concorrência internacional. A segunda fase foi alavancada pela Segunda Guerra Mundial, no contexto da Era Vargas e marcada por uma verdadeira Batalha da Borracha, onde milhares de soldados sangravam as seringueiras para suprir demandas da indústria norte-americana. Ambas foram acompanhadas por grandes fluxos migratório de outras regiões do país.

Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser pensado sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal era formado por uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de trabalhadores, formando um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o abastecimento de mercadorias e escoamento da produção. Como unidade produtiva e social o seringal também se constituía pela posse de uma imensa área conectada por caminhos onde se localizavam as seringueiras. O seringalista era conhecido como “patrão”, o dono dos meios de produção que comandava seus capatazes, gozando dos privilégios de mando. O seringueiro provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria das vezes, era o migrante nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente conseguia escapar, vivia numa condição semi-escravista, à mercê dos “patrões”.

A partir dos dados sobre demografia na Amazônia, podemos considerar que o ciclo da borracha esteve relacionado à grande migração nordestina para a região. Tal fenômeno emergiu à medida que o processo de vulcanização da borracha tornou-se conhecido. Este fluxo foi motivado pela fome e miséria que assolava grande parte da sociedade brasileira no Segundo Reinado no Brasil. Nos anos 1870, os governos incentivaram a migração como uma forma de amenizar os conflitos sociais resultantes da concentração fundiária iniciada ainda no Período Colonial. Os conflitos no campo, a seca que se alastrou pelo nordeste e o sonho de uma vida melhor levou muitos migrantes a buscar alternativas. A partir dos anos 1940 até 1960, somaram-se aos mais de 35 mil nordestinos que já estavam na região outros 54 mil dos quais mais da metade migraram do Ceará com financiamentos do Banco de Crédito da Amazônia.

Pode-se considerar que, para além dos recursos naturais extraídos ao longo daquele período, outros recursos altamente explorados foram o sangue e o suor de milhares de nordestinos que desfaleceram na Amazônia sem poder resistir às doenças e aos enganos do modo de produção gomífera. Além disso, as condições em que se criavam os seringais, nem sempre eram amistosas. Estas resultaram, muitas vezes, em grandes conflitos com os grupos indígenas da Amazônia. O resultado foi que milhares de seringueiros foram mortos pelos índios e muito mais indígenas foram mortos nesses confrontos. Etnias inteiras foram dizimadas em troca do estabelecimento dos seringais. Se as vidas dos seringueiros eram muitas vezes desvalorizadas, as vidas dos indígenas nem parecem ter sido postas a preço tamanha a crueldade com que foram perseguidos e escravizados em pleno despontar do século XX.

Referências bibliográficas:

CHEROBIM, Mauro. Trabalho e comércio nos seringais amazônicos. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, 1983. Disponível em: //repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/108221/ISSN1984-0241-1983-6-101-107.pdf?sequence=1; Acesso em: 11 set. 2017.

MONTEIRO, Jorgemar. Seringal, seringalista e seringueiro. Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Disponível em: //portalamazonia.globo.com/detalhe-artigo.php?idArtigo=210; Acesso em: 07 set. 2017.

SILVA, Maria de Andrade. A Borracha passada na História: Os Soldados da Borracha durante a Segunda Guerra. Monografia para obtenção do grau de Bacharel em História. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: 2005. Disponível em: //pt.scribd.com/document/15856847/SILVA-MAria-A-Borracha-passa-na-Historia-Os-Soldados-da-Borracha-na-Segunda-Guerra-Mundial; Acesso em: 05 set. 2017.

SILVA, Antônio Carlos Galvão da & SILVA, Josué da Costa. Seringueiros na Amazônia. Disponível em: //www.neer.com.br/anais/NEER-2/Trabalhos_NEER/Ordemalfabetica/Microsoft%20Word%20-%20AntonioCarlosGalvaodaSilva.ED2V.pdf; Acesso em: 19 set. 2017.

As migrações inter-regionais são aquelas que ocorrem dentro do território nacional e entre as regiões geográficas. Na história do Brasil, as migrações dessa espécie estiveram e ainda estão relacionadas a ciclos econômicos, que atraem a população que busca conquistar melhorias econômicas e benefícios sociais. Destacaremos as grandes correntes migratórias que ocorreram no território brasileiro.

Século XVIIpecuária extensiva: deslocamento da população do litoral nordestino em direção ao Sertão e proximidades do Brasil Central. Esse movimento ajudou na interiorização do povoamento, até então restrito às regiões litorâneas. A pecuária, a princípio, tinha como objetivo atender às necessidades dos engenhos de cana. A necessidade de ampliar as fronteiras motivou a coroa portuguesa a explorar a atividade pecuarista para essa finalidade.

Século XVIIImineração: deslocamento da população do Nordeste e de São Paulo em direção à Região das Minas Gerais [Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais]. A mineração iniciou a modificação da estrutura de ocupação do Brasil, até então concentrada no Nordeste brasileiro. Nesse momento, começou a constituição de uma área de repulsão [atual Região Nordeste] e uma área de atração [atual Região Sudeste].

Século XIX [principalmente na 2ª metade]atividade cafeeira: interiorização do estado de São Paulo [mineiros e baianos]. Apesar da predominância das imigrações externas [italianos], ocorreu um grande movimento interno em direção ao estado de São Paulo. Alguns agricultores paulistas também migraram em direção ao norte do estado do Paraná.

Final do século XIX e início do século XXciclo da borracha: nordestinos em direção à Amazônia, em sua maioria retirantes do Sertão nordestino, principalmente do estado do Ceará. Após o declínio da borracha, muitos se dirigiram para o Sudeste. 

Pós-Segunda Guerra MundialConcentração industrial: nordestinos em direção ao Sudeste e Sul, com destaque para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse movimento foi muito intenso, principalmente entre as décadas de 1960 e 1980. Os nordestinos constituíram a principal mão de obra para a construção civil e para os setores industriais que empregavam trabalhadores com menor qualificação. A falta de políticas públicas adequadas nas cidades do Sudeste, assim como por parte dos governantes nordestinos, que pouco ou nada fizeram para oferecer melhores condições de vida para a sua população, desencadeou uma série de problemas estruturais nas áreas urbanas e rurais do Sudeste.

Década de 1960Construção de Brasília: nordestinos em direção ao Brasil Central. Formação da Zona Franca de Manaus e extrativismo mineral: nordestinos em direção à Amazônia. Projetos de colonização do Estado: nordestinos e agricultores sulistas em direção à Amazônia. Os governos militares incentivaram a colonização da região amazônica, tendo como fundamento a ocupação e proteção dos extremos do país. Nesse processo, iniciaram os conflitos fundiários que persistem até os dias atuais, envolvendo os povos da floresta, garimpeiros, fazendeiros e grandes corporações ligadas à extração de madeira e minérios.

Décadas de 1970 e 1980Fronteiras agropecuárias: fazendeiros da região Sul em direção ao Brasil Central. O Centro-Oeste tornou-se o novo celeiro agrícola do país, destacando-se a pecuária e a produção de grãos. A especulação agrícola supervalorizou as terras da região, provocando êxodo rural e pressionando as áreas de Cerrado.

Década de 1990Fronteiras agropecuárias: expansão das fronteiras do Brasil Central em direção à Amazônia. Com o crescimento do agronegócio, principalmente a soja, as monoculturas avançaram em direção à Região Norte, alcançando até mesmo o estado do Amapá.

Década de 2000Motivações socioeconômicas: migrações de retorno, principalmente de nordestinos. Apesar de o Sudeste continuar exercendo atração para a população de outras regiões, a precariedade nas condições de vida dos centros urbanos e a falta de oportunidades fizeram com que muitos imigrantes voltassem para os seus estados de origem, procurando evitar que mais uma geração fosse entregue à marginalidade e aos subempregos.  Juntamente a esse fator, pode ser acrescentado o crescimento econômico alcançado por alguns centros nordestinos. Além disso, o Censo 2010 apontou para o crescimento das cidades médias como sendo um dos principais fatores responsáveis pela atração de imigrantes, o que ajuda a explicar o saldo migratório negativo da Região Metropolitana de São Paulo. Ainda de acordo com o IBGE, apesar da continuidade dos fluxos migratórios inter-regionais, o volume das migrações entre as regiões brasileiras tem diminuído nos últimos anos.

Júlio César Lázaro da Silva Colaborador Brasil Escola Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

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