Como em toda notícia a formas verbais no passado e no presente

Por Anderson Ulisses S. Nascimento

Doutorando em Língua Portuguesa pela UERJ

Os verbos são uma classe de palavras que tem como característica fundamental o fato de se flexionarem para exprimir a noção de tempo. Além dessa, expressam também a categoria de modo, em português, agregada morfologicamente a de tempo, nas desinências modo-temporais. É de tempos e de modos que trataremos aqui.

Cabe alertar que o tempo verbal não se confunde com o tempo real, sendo o primeiro uma interpretação que cada língua faz do segundo. Daí, diferentes línguas possuírem diferentes tempos verbais.

Já os modos referem-se a um recorte que inclui o juízo do enunciador sobre dado fato. Assim, temos o modo indicativo, em que esse ajuizamento é tipicamente mais tênue, o subjuntivo, no qual, é mais característico e evidente. Ainda há o modo imperativo, em que esse juízo do emissor ganha ares de compromisso esperado do interlocutor. Em outras palavras, o indicativo lida com o que é factual, o subjuntivo, com possibilidades e suposições, o imperativo, com sugestões, orientações, pedidos, apelos.

Importa destacar que o modo imperativo só é usado em contextos de interlocução, diferente do indicativo e do subjuntivo. Por isso, o imperativo não possui 1ª pessoa do singular nem 3ª pessoa representada por ele/ela, mas por você. 

Observamos que, no modo indicativo, temos a mais nítida definição de tempos verbais, logo me maior número nesse modo. No subjuntivo, encontramos uma situação intermediária. Já no imperativo, a própria noção de tempo verbal é suprimida, havendo tão somente uma forma afirmativa e outra negativa.

Indicativo: - presente- pretérito perfeito- pretérito imperfeito- pretérito mais-que-perfeito- futuro do presente- futuro do pretérito

Subjuntivo: - presente- pretérito imperfeito- futuro

Imperativo: afirmativo e negativo

Isso para as formas verbais ditas simples. Há também as formas compostas, das quais falaremos à frente.

A formação de uma forma simples se dá tipicamente com estes elementos, exemplificados com o verbo regular viajar:

Como em toda notícia a formas verbais no passado e no presente

Embora em linguagem corrente a distinção indicativo x subjuntivo venha diminuindo, persistem contextos claros de diferenciação de uso e de significado:

- Procuro um restaurante que serve comida grega.
- Procuro um restaurante que sirva comida grega.

Na primeira frase, com o verbo destacado no indicativo, a existência do restaurante não é posta em questão, tão somente sua localização; já no segundo exemplo, com destaque no subjuntivo, a própria existência do estabelecimento está posta no campo das suposições.

O modo subjuntivo, no português, tem presença marcante, embora não exclusiva, em orações subordinadas. A noção temporal, nesse modo, é menos delimitada, sobressaindo-se em todos os tempos o valor de possibilidade, hipótese, suposição.

Sobre o modo indicativo, é importante caracterizar que sua factualidade é gradativa. Assim, temos desde os pretéritos, em geral, correspondentes a fatos efetivamente até os futuros que, em maior ou menor escala, sempre correspondem a uma expectativa, um juízo de valor, aproximando-se do típico comportamento subjuntivo. 

Como em toda notícia a formas verbais no passado e no presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito perfeito

Pretérito imperfeito

Presente

Futuro do presente

Futuro do pretérito

Formas nominais

Há ainda as formas nominais, assim chamadas por sua propriedade de poderem, dadas vezes, comportarem-se como típicos nomes, sendo as seguintes:

INFINITIVO: é a forma verbal por excelência, o verbo em seu estado mais neutro possível. Tem como desinência o –R final. Pode fazer as vezes de um substantivo.

PARTICÍPIO: forma que indica tão somente ação/fato concluído. Em sua forma regular, apresenta o –DO final. Pode equivaler a um adjetivo.

GERÚNDIO: expressa ação/fato em curso, tendo por desinência o –NDO final. Pode corresponder a um advérbio.

Obs.: em termos de língua padrão, utiliza-se o particípio regular (em –DO) com sentido ativo, em geral com os verbos haver e ter: Tenho pagado essas contas. Já a forma irregular (de terminações variadas), é utilizada em sentido passivo, principalmente com os verbos ser e estar: Essas contas foram pagas.

Quanto ao uso dos tempos simples do indicativo:

PRESENTE: é o tempo coringa da língua portuguesa, aplicando-se a distintos usos. Os seus principais são:

Valor Exemplo Observação
Simultaneidade ao momento de fala Estudo os tempos verbais agora.   Uso mais comum quando na presença de um adjunto adverbial que indique a simultaneidade.
Contemporaneidade Dilma preside o Brasil.    
Frequência Acordo às sete a semana toda.   Nesse caso, pode ou não haver um adjunto adverbial circunstanciando a frequência.
Atemporalidade A Terra gira em torno do Sol.   Este uso também pode ser entendido como de “verdades absolutas”.
Futuridade   No sábado, passo na tua casa. Sobretudo em usos que remetem a um futuro considerado breve pelo enunciador.
Apresentação histórica (passado) Em 1969, o homem pisa na Lua.   Também denominado “presente histórico, assume o valor do perfeito.

PRETÉRITO PERFEITO X PRETÉRITO IMPERFEITO: a distinção entre ambos não é exatamente de tempo, mas de ponto de vista acerca do passado, ou seja, uma diferença na noção verbal conhecida como aspecto. Isso é o que estabelece a distinção de significado entre:

Quando criança, brinquei naquele parque. (Perfeito)

X

Quando criança, brincava naquele parque. (Imperfeito)

Na contraposição de exemplos acima, apreendemos da primeira frase o sentido de que, num momento específico do passado, se brincou na mencionada praça; ao passo que na segunda lidamos com o significado de que houve uma época do passado em que lá se brincou. Percebemos aí a clara distinção entre esses dois pretéritos: o perfeito indica fato concluso, pontual, específico no passado e o imperfeito, fato inconcluso, contínuo, inespecífico, também em relação ao passado.

Quanto ao imperfeito, ainda encontramos, comumente, em linguagem corrente, o seu uso com valor de futuro do pretérito, em casos como:

Se eu tivesse dinheiro, comprava aquele vestido.

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO: esse tempo verbal, por sua vez, já se contrapõe aos outros dois pretéritos por indicar um fato mais remoto no passado. Em outras palavras, corresponde a um passado anterior a outro fato já expresso em um forma pretérita. Vejamos o exemplo:

Quando a mãe chegou em casa, as crianças já tinham dormido.

Exemplo típico: dois fatos referentes ao passado, sendo o mais remoto deles o mais-que-perfeito, aqui mencionado em sua forma de tempo composto, de uso mais corrente. A esse respeito, cabe mencionar a gradação de formalidade nas formas do mais-que-perfeito, todas sinônimas entre si:

estudara (mais formal)/ havia estudado (intermediário)/ tinha estudado (mais informal)

Por conta da correlação temporal de que o mais-que-perfeito é materialização, esse tempo é típico de períodos compostos.

FUTURO DO PRESENTE: corresponde à nossa própria intuição do que seja o futuro, ou seja, aquilo que está por vir, seja como expectativa, torcida, desejo. Possui três formas alternantes na língua atual:

Estudará (cada vez mais restrita a contextos formais)
Vai estudar (de uso crescentemente aceito, mesmo em contexto não excessivamente formais)
Irá estudar (que equivale a uma ênfase da última forma)

FUTURO DO PRETÉRITO: remete a uma projeção de futuro, tendo por referência um fato passado, compare-se os dois exemplos seguintes:

Jura que comparecerá. (Futuro do presente)Jurou que compareceria. (Futuro do pretérito)

Na comparação acima, concluímos que a relação de referência que o futuro do presente mantém com o tempo verbal presente é da mesma natureza da que podemos verificar entre o futuro do pretérito e os pretéritos.

Outro uso muito produtivo do futuro do pretérito é na típica construção de condição hipotética, em que esse tempo se correlaciona ao imperfeito do subjuntivo:

Se soubesse de tua presença, traria teu convite.

O futuro do pretérito apresenta ainda um uso estilístico em que se pretende a expressão de gentileza, polidez, com valor de presente, como em:

Poderia me passar o sal?Por favor, você me daria licença?

Quanto aos tempos compostos, ou seja, locuções verbais com clara expressão de tempo, temos:

TER ou HAVER + verbo principal no PARTICÍPIO 
INDICATIVOSUBJUNTIVO FORMAS NOMINAIS 
Tem estudado (pretérito perfeito)  Tenha cantado (pretérito perfeito)
Ter estudado (infinitivo)
Tinha estudado (mais-que-perfeito) Tivesse cantado (pretérito mais-que-perfeito)Tendo estudado (gerúndio valor pretérito 
Terá estudado (futuro do presente)Tiver cantado (futuro)
 
 Teria estudado (futuro do pretérito)  

Para finalizar a apresentação dos tempos compostos, é preciso um alerta sobre a construção chamada gerundismo, como em Vou estar resolvendo o problema. Tal uso é enfaticamente criticável em língua padrão, inclusive por apontar uma ação de progressão contínua e indefinida no futuro. Basta compararmos às formas Vou resolver o problema ou Resolverá o problema, que sugerem mesmo maior compromisso com a citada resolução. Só há sentido no uso dessa locução, se ela indicar, de fato, algo que, em projeção de futuro, seja simultâneo a dado intervalo de tempo: Amanhã, de oito às nove, não me ligue, pois vou estar dirigindo.

Enfim, a formação do modo imperativo, que, em língua padrão, apresenta a seguinte formação, a partir dos presentes do indicativo e do subjuntivo:

Presente do indicativo Imperativo afirmativo

Imperativo negativo
(Não, nunca, jamais)

Presente do subjuntivo
Estudo ----- ----- Estude
Estudas [sem o-s]Estuda Não estudes Estudes
Estuda Estude Não estude Estude
Estudamos Estudemos Não estudemos Estudemos
Estudais [sem o –s]Estudai Não estudeis Estudeis
Estudam Estudem Não estudem Estudem

Exercícios

(UERJ - 2004) 
CANTIGAS DE ACORDAR MULHER
Vagueio aquém do teu sonocom alma de marinheirofeliz de chegar a um portosem previsão no roteiro, mais tonto de o descobrirque de lhe ser estrangeiro.Teu continente a dormir- pouso de barco ligeiro –para os relógios num tempoavesso a qualquer ponteiro: nem sei se o fico vivendoou se te acordo primeiro.(...)Bom é sorrires, olharem mim: não vêso inimigo, o rivaljamais.(...)Acorda, meu bem, acorda:são  horas de vigilarfeliz quem menos recordae faz o tempo passarAcorda, meu bem, acordae ajuda teu madrugar:a mão do dia transbordade coisas para te dar!                                         (Geir Campos)No poema de Geir Campos, ao se dirigir à amada, o amante assume atitudes diferentes, que se evidenciam nos modos verbais empregados. Identifique esta diferença de atitudes relacionando-as aos modos verbais empregados.

Resposta

O modo indicativo declara a realização do fato, já o modo imperativo significa um convite ou apelo para que algo aconteça.

(UNIRIO - 2010) No período: “E olhando, indagando, farejando, refletindo, o seu interesse cruza  com o interesse de milhões de outras criaturas..." Escreva, em uma frase completa, qual é a contribuição semântica do uso dos verbos no gerúndio em paralelo ao verbo no tempo presente do indicativo.

Resposta

O emprego do gerúndio enfatiza um processo contínuo, inacabado, além disso, o efetivo de realizar a ação.

(UNIRIO - 2010)“O grupo que reinará na Internet dominará o mundo da comunicação, da cultura e da educação de amanhã, com todos os riscos que isso trará para a liberdade de espírito dos cidadãos e para a democracia.”Reescreva a passagem acima mantendo os respectivos verbos e mudando o tempo/modo verbal de acordo com o novo marco temporal instaurado na frase:"O grupo que reinasse na Internet..."

Resposta


dominaria / iria dominar ou traria / pudesse trazer; formas verbais no Futuro do Pretérito do Indicativo.