Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

O ano eleitoral mal começou e as comparações entre o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), os dois principais oponentes na disputa presidencial de outubro, não tardaram a aparecer em veículos de comunicação do país.

Nas redes sociais, logo na virada do ano, ganhou destaque um editorial do jornal O Estado de S. Paulo em que são apontadas supostas semelhanças entre os dois políticos.

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"Um dos aspectos mais perversos da similaridade entre Lula e Bolsonaro é o modo como tratam as classes mais pobres. Uma vez que medem tudo pelo interesse eleitoral, a vulnerabilidade social, em vez de ser enfrentada responsavelmente, é usada como oportunidade eleitoreira. Para os populistas, a autonomia do cidadão é obstáculo para a instauração do seu projeto de poder", diz um trecho do texto.

Acadêmicos e especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato condenam qualquer tipo de comparação entre Lula e Bolsonaro. Segundo eles, os paralelos estabelecidos para aproximar os dois pré-candidatos são frágeis e não se sustentam.

Nas pesquisas eleitorais, Lula tem larga vantagem sobre Bolsonaro. Em alguns estudos, aparece com possibilidade de vitória no 1º turno. Os entrevistados apontaram que a comparação entre o comportamento dos dois é uma das estratégias da chamada "terceira via".

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O sociólogo Wescrey Pereira, doutorando no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), listou os principais episódios em que a postura democrática de Lula e do PT foi colocada à prova desde o fim da Ditadura Militar.

"Havia, em 2002, aquele velho debate se a democracia brasileira seria sólida ao fazer a transição de dois projetos distintos. De um lado, o projeto do Fernando Henrique Cardoso, que era o partido da ordem, para o Lula. E a democracia no país se mostrou estável, sempre respeitando as regras do jogo", disse.

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"O Lula inclusive abdicou de apresentar um programa político mais radical no sentido do enfrentamento à política macroeconômica, fazendo sinalizações importantes ao mercado, ao setor produtivo brasileiro, não tendo uma postura radical. Foi um governo dentro dos marcos desse modelo de democracia que nós vivemos."

Pereira aponta que as posições do PT diante do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e da prisão de Lula, em 2018, são prova de que o partido não defende nenhum tipo de ruptura democrática.

"Quando, em 2016, ocorre o golpe – e olha que é um golpe que rompe com a democracia, é um golpe político importante – o PT ainda assim respeitou as regras do jogo que estavam postas", afirmou.

"O Lula foi preso e mesmo assim respeitou as regras do jogo, ainda que discordando do que estava se propondo na época. Eu acho que isso situa o Lula como um democrata de um partido que respeita a democracia", declarou.

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Em relação a Bolsonaro, Pereira aponta que a defesa da Ditadura Militar, a referência a figuras como o torturador Coronel Brilhante Ustra, e as ameaças ao resultado de eleições democráticas são prova cabal de desapreço pela democracia.

Milton Alves, colunista do Brasil de Fato e autor do livro A Política Além da Notícia: Guerra Declarada contra Lula e o PT (2019), aponta que a comparação entre os dois é patrocinada por grandes veículos de comunicação.

"Esse debate é levantado por setores da imprensa, particularmente a imprensa que eu chamo de golpista, a Rede Globo, a Folha de São Paulo, o Estadão, que nas eleições de 2018, falaram de uma 'escolha difícil' entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. E, agora, tentam fazer essa simetria entre Lula e Bolsonaro. Nada pode ser mais distante da realidade e falso", afirma Alves.

"Essa é mais uma tentativa de tentar desqualificar o PT e de continuar a campanha midiática contra o PT e contra o Lula. É assim que eu vejo essa tentativa de comparação. Falsear a realidade e tentar equiparar Lula e Bolsonaro é tentar nublar as trajetória opostas deles".

"Dizer que eles têm os mesmos comportamentos políticos é uma tentativa da chamada terceira via, que tem muita dificuldade de encontrar o seu caminho", finaliza o escritor.

O Brasil de Fato listou, a partir das entrevistas, os principais argumentos utilizados pelos especialistas para contrapor o argumento de que há qualquer similaridade entre os dois.

Leia os 7 fatos:

1) Lula nunca descreditou processo eleitoral; Bolsonaro ataca urnas eletrônicas. Desde o final dos anos 1970, Lula participa como candidato ou como militante do PT de eleições. Em nenhuma delas, questionou o resultado, ameaçou não cumprir decisões da Justiça Eleitoral ou descreditou a confiabilidade do processo eleitoral. Nos últimos anos, Bolsonaro se notabilizou pelo ataque às urnas e à democracia. Ele é investigado pela Justiça por ataques promovidos contra o processo democrático brasileiro.

2) Lula nunca defendeu a Ditadura Militar; Bolsonaro é apoiador confesso do regime. Lula chegou a ser preso nos últimos anos da Ditadura Militar, em função de sua atuação sindical na região do ABC, na Grande São Paulo. Bolsonaro é apoiador confesso da tortura e de outras violências praticadas pelos militares no país de 1964 a 1985. Em seu voto pelo impeachment de Dilma, homenageou o torturador Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

3) Lula sempre cumpriu decisões judiciais; Bolsonaro desafia o Poder Judiciário. No auge da Operação Lava Jato, quando foi alvo de condução coercitiva, em 2017, e depois preso, em 2018, Lula cumpriu as decisões judiciais. Recusou convites para se asilar em embaixadas ou sair do país. Todos os seus questionamentos se deram em forma de recursos e dentro do devido processo legal. Bolsonaro tem postura repetida de ataques ao STF e ao Poder Judiciário.

4) Lula ampliou a participação social; Bolsonaro extinguiu conselhos populares. Em seu governo, Lula criou dezenas de conselhos e órgãos de representação da sociedade civil para elaboração de políticas públicas. A política é valorizada por organismos internacionais por incentivar a participação cidadã. Em um dos primeiros atos como presidente, Bolsonaro assinou um decreto na tentativa de extinguir os mecanismos de atuação e controle da sociedade no Poder Executivo.

5) Lula criou mecanismos de transparência; Bolsonaro aposta no sigilo. Os governos petistas tiveram grandes avanços em termos de transparência pública, com a criação do Portal da Transparência no governo Lula e a promulgação da Lei de Acesso à Informação (LAI) no governo Dilma. Já o governo Bolsonaro tem classificado uma quantidade cada vez maior de documentos públicos como sigilosos e precarizado o atendimento a pedidos de acesso via LAI e solicitações na Ouvidoria.

6) Lula nunca tentou politizar forças de segurança pública; Bolsonaro incita policiais. A relação de Lula com as forças policiais a nível federal e estadual sempre foi desprovida de teor político. O governo Bolsonaro tem forte relação com policiais miliares e agentes das Forças Armadas, tendo sido o recordista da nomeação de agentes de segurança pública em cargos comissionados no Executivo federal. Nas manifestações de 7 de setembro, o presidente celebrou o apoio de agentes fardados compartilnhando vídeo nas redes sociais.

7) Lula fez políticas populares de transferência de renda; Bolsonaro fez políticas populistas. A criação do Fome Zero e do Bolsa Família foi marcada pela importante redução da pobreza e da desiguladade no país. A extinção do Bolsa Família e sua substituição pelo Auxílio Brasil, que tem o prazo de execução apenas até o fim de 2022, tem viés eleitoral e pode ser enquadrado como populista.

Edição: Leandro Melito


A pouco mais de dois meses do primeiro turno das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 33%. Ciro Gomes, do PDT, tem 8%, e Simone Tebet (MDB), 4%. André Janones (Avente) fez 2%. Os demais nomes testados pontuaram 1% ou ficaram abaixo disso.

Todos os números são de uma pergunta estimulada, com os nomes apresentados em formato de lista e fazem parte da pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA, divulgada nesta quinta-feira, 21. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Foram ouvidas 1.500 pessoas entre os dias 15 e 20 de julho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-09608/2022. A EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Veja o relatório completo.

Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

(Arte/Exame)

Em comparação com a última pesquisa, feita em junho, os números oscilaram dentro da margem de erro. Apesar dessa variação, quem teve uma queda maior, no limite da margem, foi o presidente Bolsonaro, saindo de 36%, há um mês, para 33%. Lula perdeu um ponto percentual.

Na série histórica, as duas últimas sondagens são as que permitem uma comparação mais precisa, uma vez que outros pré-candidatos foram testados em pesquisa anteriores, mas saíram da corrida presidencial, como o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil).

Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

(Arte/Exame)

“Percebemos um número estável das intenções de voto. Ainda não há nenhum reflexo de impacto resultante das medidas do governo de pagamento de auxílio ou de redução de preço dos combustíveis. Ou seja, é algo que precisamos monitorar na opinião pública nos próximos meses. Vale lembrar que o auxílio emergencial demorou aproximadamente dois meses para ter um reflexo na popularidade do presidente”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.

Moura se refere ao pagamento de 600 reais do Auxílio Brasil, mais um benefício a taxistas e caminhoneiros, além de um valor maior do auxílio-gás que serão pagos até o final do ano, e que foi aprovado pelo Congresso na semana passada.

Em uma pergunta espontânea, em que o entrevistado precisa dizer o primeiro nome que está na mente, Lula tem 36% das intenções de voto, e Bolsonaro, 30%. Ciro aparece com 3%, e os demais pontuaram 1% ou ficaram abaixo disso.

Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

(Arte/Exame)

Segundo turno: distância entre Lula e Bolsonaro é de 10 pontos

Em uma simulação de segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista tem 47%, e Bolsonaro 37%. Na série histórica, essa distância entre os dois ficou maior, se comparado com a pesquisa feita há um mês. O atual presidente também oscilou negativamente, acima da margem de erro.

Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

(Arte/Exame)

“É maior a parcela da população que avalia o governo de forma negativa. Na pergunta sobre se ele merece ser reeleito, esse número está acima dos 50%, o que significa uma grande dificuldade de reeleição. Outro dado que tem relação é a maior parte dos brasileiros respondendo que acha que o país está no rumo errado”, diz Maurício Moura.

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EXAME/IDEIA testou ainda outros quatro cenários de segundo turno. Lula venceria todas as disputas. Bolsonaro está em primeiro nas simulações com Tebet e Ciro, mas a com o ex-governador do Ceará está dentro da margem de erro e, portanto, é considerada um empate técnico.

Comparação do primeiro ano de lula e bolsonaro

(Arte/Exame)

Lula tem preferência dos jovens

Ao colocar uma lupa em alguns dados mais específicos da população, Lula tem vantagem no primeiro turno entre os jovens. Na parcela com idade entre 16 e 24 anos, ele tem 52% das intenções de voto, e Bolsonaro aparece com 21%. Ciro tem 10% nesta parcela, e Tebet, 6%.

Já entre os mais velhos, com 60 anos ou mais, há um empate entre Lula e Bolsonaro, ambos com 39% das intenções de voto. Neste grupo de eleitores, o ex-governador do Ceará tem 6%, e Tebet tem 5%.

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