Explique como a música ao comparar-nos com robôs mostra que não somos livres

PROFª: Margarida Jansen ENSINO MÉDIO- Filosofia

LIBERDADE: RAZÃO E AUTONOMIA

“Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”
Immanuel Kant

1 – O problema da escolha sem autonomia em nossa sociedade. Sabemos que a liberdade, como apontou Sartre, expressa-se na escolha que fazemos durante todo o tempo. Porém, talvez as escolhas que estamos fazendo estejam corrompidas, talvez estejamos agindo sob influência de interesses que não são verdadeiramente nossos. Vejamos a música abaixo para situarmos melhor o problema que expomos:

Adimirável Chip Novo

Pitty

Pane no sistema, alguém me desconfigurouAonde estão meus olhos de robô?Eu não sabia, eu não tinha percebidoEu sempre achei que era vivoParafuso e fluido em lugar de articulaçãoAté achava que aqui batia um coraçãoNada é orgânico, é tudo programadoE eu achando que tinha me libertado,Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:Reinstalar o sistemaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, digaTenha, more, gaste e vivaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, diga...Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhorPane no sistema, alguém me desconfigurouAonde estão meus olhos de robô?Eu não sabia, eu não tinha percebidoEu sempre achei que era vivoParafuso e fluido em lugar de articulaçãoAté achava que aqui batia um coraçãoNada é orgânico, é tudo programadoE eu achando que tinha me libertado,Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:Reinstalar o sistemaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, digaTenha, more, gaste e vivaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, diga...Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhorMas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:Reinstalar o sistema

PITTY. Admirável chip novo, 2003.

O refrão da música compõe-se de imperativos que nos são ininterruptamente transmitidos pela televisão, pelo rádio, pela internet, pelos jornais, pelas revistas, pelos outdoors, por religiões e até pelos nossos amigos. Embora possamos passar a vida sem perceber, escolhemos entre roupas da marca A ou B, refrigerante A ou B; carro A ou B, eletrodoméstico A ou B, deus A ou B. É verdade que há uma escolha, é verdade que podemos escolher por A e não por B; porém, é verdade também que muitas vezes agimos influenciados sobre os imperativos que nos foram transmitidos. A música expressa que as escolhas que fazemos podem estar corrompidas pelo consumismo contemporâneo, expressa que fazemos escolhas influenciadas por falsas necessidades, por interesses exteriores a nós mesmos. Isto é, a comparação feita pela música, entre nós e os robôs, retrata justamente o modo como somos “programados” a realizar escolhas que beneficiam interesses que não são necessariamente os nossos, a escolher coisas que não precisamos, a fazer coisas que podem até estar contrárias a nossos interesses. E ainda podemos aceitar estas coisas de bom grado: “Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhor”. Caso não gostemos e fazemos algo contrário aos imperativos que nos foram transmitidos, a música mostra a saída que é usada para tudo continuar do modo como está: “Lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer: reinstalar o sistema”. Portanto, o problema da liberdade em nossa sociedade é ainda um problema não resolvido, trataremos neste período justamente das escolhas que fazemos e que podem ainda não serem suficientes para sermos livres. Segundo a música, em cada um de nós é como se houvesse um chip, como se não fôssemos livres.

VAMOS FILOSOFAR...

1 – Quais são os imperativos que a música demonstra que nos são impostos ininterruptamente?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2 – Ao escolhermos um produto de uma marca, e não de outra, após sermos convencidos por uma propaganda, somos livres? Explique._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 – Explique como a música, ao comparar-nos com robôs, mostra que não somos livres._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4 – Você já foi influenciado por propagandas a adquirir algo que não tinha muita necessidade? Exemplifique e explique como sua liberdade foi afetada._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5 – Desenhe um exemplo de propaganda que influencia as pessoas e, assim, afeta a liberdade delas.PROFª: Margarida Jansen ENSINO MÉDIO- Filosofia

Ousar pensar: a saída de Voltaire para o problema da escolha sem autonomia em nossa sociedade.

Voltaire, filósofo francês que viveu entre 1694 e 1778, tentou encontrar uma solução para o problema que estamos discutindo, embora, seja evidente, em um contexto diferente. No Dicionário filosófico, ele escreveu um verbete intitulado “Liberdade de Pensamento”, expondo um conflito entre um general inglês (Boldmind) e um funcionário da Inquisição na Espanha (Medroso). Deste conflito, Voltaire indicou o caminho para escolhermos sem seguir interesses que não são verdadeiramente nossos. Vamos acompanhar o diálogo para encontrar esse caminho:

Liberdade de pensamento

“Boldmind: Sois, portanto, sargento dos dominicanos? Exerceis um bem vil ofício.Medroso: É verdade; mas gostei mais de ser criado deles do que ser vítima e preferi a desgraça de queimar o meu próximo à de ser eu próprio cozido.Boldmind: Que horrível alternativa! Éreis cem vezes mais felizes sob o jugo dos mouros que vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e que, embora vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a ferros.Medroso: Que quereis? Não nos é permitido escrever, nem falar, nem mesmo pensar. Se falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda os nossos escritos. Enfim, como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos nossos pensamentos secretos, ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem do próprio Deus se não pensarmos como os dominicanos. Persuadiram o governo que se possuíssemos o senso comum todo o Estado ficaria em combustão e a nação tornar-se-ia a mais desgraçada da Terra.Boldmind: Achais que somos assim desgraçados, nós, ingleses, que cobrimos os mares com os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da Europa? Vede os holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas descobertas na Índia e hoje se enfileiram entre os vossos protetores: pensais que sejam malditos de Deus por haverem concedido inteira liberdade à imprensa e por fazerem o comércio dos pensamentos humanos? Foi menos poderoso o império romano por Cícero haver escrito com liberdade?Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero, trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi dizer que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.Boldmind: Não cabe a vós acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é divina e que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Se assim é, nada poderá destruí-la.Medroso: Não, mas pode ser reduzida a pouca coisa. E foi por terem pensado que a Suécia, a Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na pavorosa desgraça de não mais serem súditos do papa. Diz-se mesmo que se os homens continuassem a guiar-se pelas suas falsas luzes acabarão em breve por ater à simples adoração de Deus e à virtude. Se alguma vez as portas do inferno prevalecerem até esse ponto, em que se tornará o Santo Ofício?Boldmind: Se os primeiros cristãos não tivessem a liberdade de pensar, não é verdade que não existiria cristianismo?Medroso: Que quereis dizer? Não vos entendo?Boldmind: Acredito. Quero dizer que se Tibério e os primeiros imperadores dispusessem de dominicanos que houvessem impedido os primeiros cristãos de usar penas e tinta; se durante tanto tempo não tivesse sido permitido pensar livremente no império romano, tornar-se-ia impossível aos cristãos estabelecer os seus dogmas. Portanto, se o cristianismo só se formou pela liberdade de pensamento, por que contradição, por que injustiça desejaria aniquilar hoje essa liberdade sobre a qual está fundado? Quando vos propõem algum negócio interessante, não o examinais demoradamente, antes de o concluirdes? Haverá no mundo maior interesse que o da nossa felicidade ou eterna desgraça? Existem sobre a Terra cem religiões e todas vos condenam à danação por acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões consideram absurdos e ímpios; examinai, portanto, esses dogmas.Medroso: Como posso examiná-lo? Não sou dominicano.Boldmind: Sois homem e isso basta.Medroso: Ai de mim! Sois bem mais homem que eu.Boldmind: A vós apenas cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave na gaiola da Inquisição; o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer. Quem não sabe geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é vergonhoso que se deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro. Ousai pensar por vós mesmo.Medroso: Há quem diga que, se toda a gente pensasse por si, a confusão seria prodigiosa.Boldmind: Pelo contrário. Quando assistimos a um espetáculo, cada qual dá livremente a sua opinião e a paz não é perturbada; se, porém, algum insolente, protetor de algum mau poeta, quiser forçar todas as pessoas de gosto a considerarem bom o que lhes parece mau, os dois partidos podem acabar alvejando-se com maçãs, como já aconteceu em Londres. São estes tiranos dos espíritos que causaram parte das desgraças do mundo. Na Inglaterra, só somos felizes desde que cada qual goze livremente o direito de exprimir a sua opinião (...)” . O problema que temos a resolver é: como fazer escolhas que reflitam o que realmente queremos, o que realmente necessitamos, sem sermos influenciados e manipulados por outrem? Voltaire, pela personagem Boldmind, indicou que estas escolhas precisam passar pelo critério do pensamento: trata-se de ousar pensar por nós mesmos, sem aderir a nenhum projeto sem antes examiná-lo com cuidado, sem entregar nossa alma seja a quem for.

Voltaire. Estátua de 1781, Museu de São Petesburgo.

VAMOS FILOSOFAR...

1 – Qual é o problema relativo à liberdade a ser resolvido em nossa sociedade?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2 – Que tipo de trabalho a personagem Medroso realiza, segundo Voltaire no texto Liberdade de pensamento? Como esse trabalho é classificado pela personagem Boldmind?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 – Existe liberdade de pensamento na Espanha sob a Inquisição? O que a personagem Medroso alega para defender o comportamento da Inquisição? Boldmind concorda com Medroso ?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4 – Para que a personagem Medroso se tornasse livre, Boldmind aconselhou: “A vós apenas cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave na gaiola da Inquisição; o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer. Quem não sabe geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é vergonhoso que se deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro. Ousai pensar por vós mesmo” . Explique qual deve ser o comportamento de Medroso para que ele seja livre._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5 – Como Voltaire resolveu a questão de fazermos escolhas sem sermos livres em nossa sociedade? Você concorda com a solução dele? Explique._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6 – Leia a letra da música abaixo e relacione-a com o texto de Voltaire para explicar se somos livres ao fazermos o que a televisão nos propõe.PROFª: Margarida Jansen ENSINO MÉDIO- FilosofiaA televisão me deixou burro, muito burro demaisAgora todas coisas que eu penso me parecem iguaisO sorvete me deixou gripado pelo resto da vidaE agora toda noite quando deito é boa noite, querida.Ô cride, fala pra mãeQue eu nunca li num livro que um espirro fosse um vírus sem curaVê se me entende pelo menos uma vez, criatura!Ô cride, fala pra mãe !A mãe diz pra eu fazer alguma coisa mas eu não faço nadaA luz do sol me incomoda, então deixo a cortina fechadaÉ que a televisão me deixou burro, muito burro demaisE agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais.Ô cride, fala pra mãeQue tudo que a antena captar meu coração capturaVê se me entende pelo menos uma vez, criatura!Ô cride, fala pra mãe!

TITÃS. Televisão, 1985.

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Composição: Samuel Rosa E Chico Amaral

Ô pacato cidadão, te chamei a atençãoNão foi à toa, nãoC\'est fini la utopia, mas a guerra todo diaDia a dia nãoE tracei a vida inteira planos tão incríveisTramo à luz do solApoiado em poesia e em tecnologiaAgora à luz do solPacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoPacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoÔ pacato cidadão, te chamei a atençãoNão foi à toa, nãoC\'est fini la utopia, mas a guerra todo diaDia a dia nãoE tracei a vida inteira planos tão incríveisTramo à luz do solApoiado em poesia e em tecnologiaAgora à luz do solPra que tanta TV, tanto tempo pra perderQualquer coisa que se queira saber quererTudo bem, dissipação de vez em quando é bãoMisturar o brasileiro com alemãoPacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoÔ pacato cidadão, te chamei a atençãoNão foi à toa, nãoC\'est fini la utopia, mas a guerra todo diaDia a dia nãoE tracei a vida inteira planos tão incríveisTramo à luz do solApoiado em poesia e em tecnologiaAgora à luz do solPra que tanta sujeira nas ruas e nos riosQualquer coisa que se suje tem que limparSe você não gosta dele, diga logo a verdadeSem perder a cabeça, perder a amizadePacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoPacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoÔ pacato cidadão, te chamei a atençãoNão foi à toa, nãoC\'est fini la utopia, mas a guerra todo diaDia a dia nãoE tracei a vida inteira planos tão incríveisTramo à luz do solApoiado em poesia e em tecnologiaAgora à luz do solConsertar o rádio e o casamento éCorre a felicidade no asfalto cinzentoSe abolir a escravidão do caboclo brasileiroNuma mão educação, na outra dinheiroPacato cidadãoÔ pacato da civilizaçãoPacato cidadãoÔ pacato da civilização. Agimos como um “pacato cidadão” e somos nós mesmos os culpados da posição de menoridade em que nos encontramos. Se hoje estamos dominados por tutores, isso só aconteceu por não caminharmos com a autonomia da nossa razão. É assim que funciona o movimento proposto por Kant: deixar a pacatez de lado e pensarmos por nós mesmos sobre todas as questões que nos são pertinentes. Dessa forma, mesmo depois de alguns erros, aprenderíamos a caminhar sozinhos. Ao invés da identificação cega com um líder político ou religioso, ao invés de seguir irrefletidamente algum órgão de imprensa, precisaríamos, no movimento proposto por Kant,Immanuel Kant (1704-1804) pensarmos para adquirir um entendimento próprio e a partir daí, expor publicamente nossas idéias: precisaríamos espalhar nossas idéias ao nosso entorno, movimentando o uso autônomo da razão naqueles que estão vivendo conosco. Essa conduta é bem diferente da conduta do “pacato cidadão” da música, e não só é diferente, mas oposta. Sairíamos da menoridade e findaríamos com os tutores se nós mesmos conduzirmo-nos nossas ações. Nossa liberdade constrói-se pelo uso autônomo da razão e pela sua publicidade (que aqui não deve ser entendida no sentido mercadológico, trata-se do uso público da razão). O movimento de Esclarecimento, proposto por Kant, e a ousadia de pensamento, proposta por Voltaire, encontram-se, então, na semelhança de seus objetivos e nos seus métodos: ambos anseiam a liberdade, ambos apostam na razão pra atingir este fim.

VAMOS FILOSOFAR...

1 – Kant e Voltaire têm um projeto parecido sobre a liberdade. Qual é esse projeto?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2 – Kant propõem um movimento para acabar com a posição de menoridade em que se encontra a humanidade. Explique:a) o que é menoridade?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________b) qual é o movimento proposto por Kant e como ele funcionaria?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3 – Relacione a idéia de “menoridade”, de Kant, com a expressão “pacato cidadão” da música do Skank e explique se, na sua cidade, as pessoas são livres._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4 – Segundo Kant, quais seriam as conseqüências para os tutores ao expormos nossas idéias publicamente?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5 – Kant e Voltaire têm um método em comum para alcançar a liberdade? Qual é ele e como funciona?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TEXTO COMPLEMENTAR

Eu, etiquetaEm minha calça está grudado um nomeque não é meu de batismo ou de cartórioum nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Em minha camiseta, a marca de cigarroque não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoque nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provadapor este provador de longa idade.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova e pente,meu copo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes, gritos visuais,ordens de uso, abuso, reincidência,costume, hábito, premência, indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.Estou, estou na moda.É doce estar na moda, ainda que a modaseja negar minha identidade,trocá-la por mil, açambarcandotodas as marcas registradas,todos os logotipos do mercado.Com que incidência demito-me de sereu que antes era e me sabiatão diverso de outros, tão mim-mesmo,ser pensante, sentinte e solidáriocom outros seres diversos e conscientesde sua humana, invencível condição.Agora sou anúncio,ora vulgar ora bizarro,em língua nacional ou em qualquer língua(qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glóriade minha anulação.Não sou – vê lá – anúncio contratado.Eu é que mimosamente pagopara anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas,e bem à vista exibo esta etiquetaglobal no corpo que desistede ser veste e sandália de uma essênciatão viva, independente,que moda ou suborno algum a compromete.Onde terei jogado forameu gosto e capacidade de escolher,minhas idiossincrasias tão pessoais,tão minhas que no rosto se espelhavam,e cada gesto, cada olhar,cada vinco da rouparesumia uma estética?Hoje sou costurado, sou tecido,sou gravado de forma universal,saio da estamparia, não de casa,da vitrine me tiram, recolocam,objetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim, tão orgulhosode ser não eu, mas artigo industrial,peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem,meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade


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