O eu lirico ao comparar poemas e passaros

O eu lirico ao comparar poemas e passaros



 Leia, analise e resolva as questões propostas sobre o poema de Mário Quintana.

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegamnão se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voocomo de um alçapão.Eles não têm pouso

nem porto;

alimentam-se um instante em cada par de mãose partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

QUINTANA, Mário. Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 2006, p. 104.

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1. No poema lido, o eu lírico apresenta a sua versão de como produzir um texto poético, ou seja, ele explica como fazer um poema por meio de um poema.

a) Essa característica está relacionada a uma função da linguagem. Qual? Relembre o conteúdo estudado em Produção Textual, discuta com seu professor e com seus colegas e apresente a resposta.

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b) Em que consiste essa função da linguagem? Exemplifique.

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2. Ao elencar elementos que considera a razão pela qual o poema desperta sentimentos e emoções no leitor, o eu lírico encerra suas colocações afirmando o seguinte: “E olhas, então, essas tuas mãos vazias, / no maravilhado espanto de saberes / que o alimento deles já estava em ti…”.

A partir das explicações apontadas no poema, como é possível interpretar essa afirmação?

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3. Observe as palavras transcritas do poema lido, analise-as e escreva quantas letras e quantos fonemas elas apresentam:

a) poemas     b) pássaros     c) instante     d) voo     e) maravilhado

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4. Identifique os dígrafos, os encontros vocálicos e/ou consonantais das palavras retiradas do poema:

que ________________________________________

alçapão  ________________________________________

vazias ________________________________________

espanto ________________________________________

alimento ________________________________________

GABARITO:

1. a) Trata-se da função metalinguística.

b) A função metalinguística acontece quando o código explica o próprio código. Por exemplo, um verbete em um dicionário. No caso do poema de Mário Quintana, o autor usa o próprio poema para explicar o que é um poema e as razões pelas quais a poesia nos “fala” algo: o poema evoca ou desperta algo que já estava em nós.

2. Nesse contexto, o eu lírico apresenta a concepção de que a escrita de um poema está vinculada à inspiração, que faz parte da vida do poeta, ora está ao lado dele, ora não. No entanto, ele encerra suas colocações reforçando a ideia de que o “material” para a escrita de um poema é algo intrínseco ao poeta.

3. a) 6 letras e 6 fonemas; b) 8 letras e 7 fonemas; c) 8 letras e 6 fonemas; d) 3 letras e 3 fonemas; e) 11 letras e 10 fonemas.

4. que: Dígrafo “qu”.

alçapão:  Encontro consonantal “lç” e ditongo “ão”.

vazias: Hiato “i-a”.

espanto: Encontro consonantal “sp” e dígrafo “an”.

alimento: Dígrafo “en”.

maciço: sólido, inabalável.

amiúde: repetidas vezes, frequentemente.

Fim do glossário.

a) Justifique a classificação do poema como um soneto.

Resposta: O poema de Vinicius de Moraes é constituído de duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos, o que já o define como soneto. Também apresenta outras características típicas dessa forma de composição: versos decassílabos e esquema de rimas definido (ABAB/ABBA/CDC/DCD).

b) Em dois versos do poema, o eu lírico se vale da comparação para expor as várias faces do amor que ele nutre pelo ser amado:

"Amo-te como amigo e como amante"

"Amo-te como um bicho, simplesmente"

I. Quais são os três tipos de amor sentidos pelo eu lírico?

Resposta: Amor de amigo, amor de amante e amor de bicho.

II. Em sua opinião, qual é a diferença entre esses três modos de amar?

Resposta: Sugestão de resposta: o amor de amigo oferece amizade, carinho; o amor de amante tem um caráter sensual/sexual; e o amor de bicho é mais instintivo, sem racionalização.

c) Interprete a última estrofe do poema.

Resposta: Na última estrofe, o eu lírico afirma que ama tanto o ser amado que um dia iria morrer repentinamente por amar mais do que era capaz. Comente com os alunos que a imagem da morte é usada pelo eu lírico como um modo de expressar a grande intensidade de seu amor. Trata-se de um exagero (hipérbole) que valoriza o amor sentido e, no limite, o próprio ser amado. Leve-os a perceber que o verso "É que um dia em teu corpo de repente" alude ao ato sexual como momento de entrega máxima do amante ao ser amado.

d) Por que o título do soneto é "Soneto do amor total"?

Resposta: Porque o tema do soneto é o amor e a entrega total à pessoa que se ama, em todos os momentos, com intensidade e permanência.

3. Leia o poema transcrito a seguir, do gaúcho Mario Quintana, e responda às questões propostas.

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM, 1980. p. 9.

a) Como é a linguagem usada no poema?

Resposta: A linguagem é simples e coloquial. Observa-se o emprego de flexões verbais e pronomes de segunda pessoa "fechas", "olhas", "tuas", "saberes", "ti" como marca da variedade usada no Rio Grande do Sul, onde nasceu Mario Quintana.

b) Por que o eu lírico aproxima os poemas e os pássaros? O que há em comum entre esses dois elementos?

Resposta: Porque ambos - poemas e pássaros - são livres, ou seja, ambos "voam", "pousam" e "se alimentam" seguindo sua própria vontade.

c) Explique os versos finais do texto. O que siginifica dizer "que o alimento deles [dos poemas/pássaros] já estava em ti..."?

Resposta: Os versos finais do poema aludem ao papel do leitor, capaz de atribuir sentido (vida) aos poemas que lê. Assim como pássaros se alimentariam nas mãos das pessoas, os poemas também só encontrariam vida quando lidos, já que seu "alimento" estaria em cada leitor.



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Page 2

1ª edição

São Paulo - 2016

2

Diretoria editorial: Lidiane Vivaldini Olo

Gerência editorial: Luiz Tonolli

Editoria de Língua Portuguesa: Mirian Senra

Edição: Juliana Mendonça Biscardi e Vivian Marques Viccino

Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga

Arte: Andréa Dellamagna (coord. de criação), Erik TS (progr. visual de capa e miolo), Leandro Hiroshi Kanno (coord.), Tomiko Chiyo Suguita (edição), Lívia Vitta Ribeiro (assist.) e Estúdio Anexo (diagram.)

Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Rosângela Muricy (coord.), Célia da Silva Carvalho, Claudia Virgilio, Paula Teixeira de Jesus e Vanessa de Paula Santos; Brenda Morais e Gabriela Miragaia (estagiárias)

Iconografia: Sílvio Kligin (superv.), Denise Durand Kremer (coord.), Fernanda Regina Sales Gomes (pesquisa), Cesar Wolf e Fernanda Crevin (tratamento de imagem)

Ilustrações: Bianca Lucchesi, Bernardo França, Filipe Rocha e Nik Neves

Cartografia: Alexandre Bueno, Eric Fuzii, Márcio Souza

Foto da capa: Máscaras artesanais, suvenir local. Maputo, Moçambique.

Danita Delimont/Getty Images

Protótipos: Magali Prado

Título original da obra: Língua Portuguesa

© 2012 Editora Positivo Ltda.

Direitos desta edição cedidos à Editora Ática S.A.

Avenida das Nações Unidas, 7221, 3º andar, Setor A

Pinheiros - São Paulo - SP - CEP 05425-902

Tel.: 4003-3061

www.atica.com.br /

2016

ISBN 978850818045 5 (AL)

ISBN 978850818046 2 (PR)

Cód. da obra CL 713411

CAE 566643 (AL) / 566644 (PR)

1ª edição

1ª impressão

Impressão e acabamento



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Page 3

O Parnasianismo na História

Na Europa, o Positivismo, apoiado na ciência e na técnica, marcou a atmosfera ideológica da segunda metade do século XIX e influenciou a produção literária realista e naturalista. Ao lado do Realismo e do Naturalismo, um outro movimento literário - o Parnasianismo - também foi marcado pela objetividade e pelo rigor característicos do pensamento positivista.

O Parnasianismo, movimento literário de caráter exclusivamente poético, desenvolveu-se nas últimas décadas do século XIX como uma crítica aos modelos poéticos e temas românticos. Os poetas parnasianos, que defendiam novos rumos para a poesia, propagavam a ideia de que os poemas deveriam modernizar-se, baseando-se no rigor experimental: o poema como um "mundo de experiências fechado em si mesmo".

Na perspectiva dos poetas parnasianos, a subjetividade dos românticos havia gerado poemas excessivamente emocionais e era preciso, então, elaborar uma poesia nova, que corrigisse esses exageros. Com essa missão, os escritores se apoiaram nos modelos clássicos e criaram o princípio da arte pela arte, que pregava a busca da perfeição formal, como veremos mais adiante.

O Parnasianismo teve origem na França. Em Portugal, não houve autores muito representativos desse movimento. Já no Brasil, os poetas parnasianos tiveram grande expressão, uma vez que a sua poesia foi capaz de traduzir a mentalidade e os anseios de nossas elites nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX.

Nos primeiros tempos de nossa vida republicana, os mais ricos não mediram esforços para parecer modernos e tentar se enquadrar nos padrões europeus. Como consequência, por aqui se disseminou, nessa época, a Belle Époque (expressão francesa que significa "época bela"), uma onda de luxo e ostentação baseada na cópia dos valores e do modo de vida das elites europeias.

Em especial no Rio de Janeiro, a então capital do país, diversas mudanças ocorreram para criar um novo cenário urbano, espécie de cartão-postal da República. Com a marginalização de um grande contingente de pessoas pobres (que foram empurradas para os morros e para as margens da cidade), forjou-se uma cidade pretensamente erudita e sofisticada, que tentava exibir um Brasil branco e europeizado.

Foi nesse contexto, no qual as nossas elites viviam numa atmosfera cultural um tanto artificial, que, a partir da década de 1880, ganhou fôlego a poesia parnasiana, que fez bastante sucesso nos salões brasileiros.

LEGENDA: Arte e literatura. 1867. William-Adolphe Bouguereau. Óleo sobre tela, 108 cm X 200 cm. Museu de Arte Arnot, Nova York, EUA. As figuras humanas personificam ideias abstratas: a mulher sentada representa a Literatura e a em pé, a Arte. Notam-se, ainda, elementos que remetem à arte clássica greco-romana, como a construção arquitetônica ao fundo, o ramo de flores na cabeça, a perfeição anatômica e a expressão de austeridade.

FONTE: Reprodução/Museu de Arte Arnot, Nova York, EUA.



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Page 4

gretado: rachado.

encerro: proteção.

Fim do glossário.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

Raimundo Correia

Raimundo Correia (1859-1911) foi um sonetista meticuloso, capaz de explorar com talento as potencialidades sonoras da língua. Em alguns de seus poemas, é possível observar uma percepção negativa do mundo, expressa em tom melancólico.

No soneto a seguir, marcado por uma intensa atmosfera de sensualidade, o eu lírico aproxima os planos divino e carnal ao descrever o sonho que teria tido com a mulher amada.

17

Beijos do céu

Sonhei-te assim, é minha amante, um dia;

- Vi-te no céu; e, enamoradamente,

De beijos, a falange resplendente

Dos serafins, teu corpo inteiro ungia...

Santos e anjos beijavam-te... Eu bem via!

Beijavam todos o teu lábio ardente;

E, beijando-te, o próprio Onipotente,

O próprio Deus nos braços te cingia!

Nisto, o ciúme - fera que eu não domo -

Despertou-me do sonho, repentino...

Vi-te a dormir tão plácida a meu lado...

E beijei-te também, beijei-te... e, ai! Como

Achei doce o teu lábio purpurino,

Tantas vezes assim no céu beijado!

CORREIA, Raimundo. Beijos do céu. In: Parnasianismo. Seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo. São Paulo: Global, 2006. p. 38. (Roteiro da Poesia Brasileira).

Glossário:



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Page 5

pungir: ferir, afligir, torturar, atormentar.

Vênus: deusa latina da beleza e do amor.

pedicuro: profissional que se dedica a cuidar dos pés.

Arcturo: uma das estrelas mais brilhantes da constelação da Ursa Maior.

Fim do glossário.

a) O título do primeiro soneto é "A um poeta". Levando em conta a ideia geral do texto, a quem o eu lírico se refere?

Resposta: Ao poeta parnasiano.

b) Que elementos, encontrados na primeira estrofe do texto 1, sugerem o afastamento do poeta parnasiano da realidade social?

Resposta: O eu lírico descreve o trabalho do poeta parnasiano como um trabalho que deve estar afastado do "turbilhão da rua", que lhe seria estéril. Na sequência, fala do sossego do claustro, condição ideal para o lavor poético.

c) Segundo a perspectiva expressa na terceira estrofe do soneto de Bilac, o efeito do poema parnasiano deve parecer natural, "sem lembrar os andaimes do edifício". Explique a ideia expressa nesse verso.

Resposta: Segundo o texto, o poema deve ser fruto do trabalho artesanal do poeta (como expresso no verso "Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"). Contudo, o poema pronto não pode deixar transparecer todo o esforço empregado para a sua elaboração. Daí o uso da imagem do edifício, que, depois de pronto, prescinde dos andaimes necessários à sua construção.

Resposta: 1. d) Seria a arte parnasiana, que apresenta grande rigor formal e é fruto do trabalho exaustivo do poeta.

Resposta: 1. e) Ele quer escrever um soneto "duro", "escuro", "seco", "abafado" e "difícil de ler".

Resposta: 1. f) Pode ser contraposto às ideias de equilíbrio e perfeição formal, defendidas pelos parnasianos. Nesse sentido, a imaturidade do soneto descrito no texto de Drummond se afastaria do ideal parnasiano de "obra acabada".

Resposta: 1. g) São imagens que condensam o desencanto e a irritação demonstrados pelo eu lírico no texto. Essas imagens insólitas sugerem a transitoriedade e a precariedade da poesia.

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d) O que seria a "arte pura", referida na última estrofe do poema de Bilac?

e) Releia a primeira estrofe do texto 2. Quais são as características do soneto que o eu lírico afirma que quer escrever?

f) Tendo em vista as ideias presentes no texto 1, a que o "ar imaturo" do soneto pretendido pelo eu lírico do texto 2 pode ser contraposto?

g) Na última estrofe do texto 2, duas imagens inusitadas são usadas para metaforizar o soneto pretendido pelo eu lírico: "tiro no muro" e "cão mijando no caos". Que sentidos podem ser atribuídos a elas?

h) Como pode ser entendida a referência a "Arcturo", um "claro enigma" que se deixaria surpreender na leitura do soneto?

Resposta: Como uma surpresa luminosa, uma revelação positiva, ainda que enigmática, capaz de conferir algum sentido à experiência poética (e, por extensão, à experiência humana). Assim, embora a literatura (mencionada no texto como "verbo") seja "antipática" e "impura", nela há algo de surpreendente para o leitor.

i) Considerando que o texto 2 foi escrito por Drummond, poeta adepto das inovações modernistas, interprete o seu título. Por que os termos "oficina" e "irritada" foram escolhidos para nomear o soneto?

Resposta: O termo "oficina" foi escolhido provavelmente em uma referência ao trabalho artesanal do poeta parnasiano, que manipulava a palavra como se fosse um joalheiro. O termo "irritada" diz respeito ao estado de espírito do poeta modernista, que rejeita os princípios parnasianos.

j) É possível afirmar que os sonetos apresentam propostas diversas sobre o fazer poético. Que propostas seriam essas?

Resposta: O texto 1 apresenta uma proposta de elaboração poética com base nos moldes parnasianos, o que se comprova na ideia de que o poeta deve trabalhar artesanalmente para atingir a perfeição formal. Já o texto 2 apresenta uma proposta moderna - e irônica - de composição poética que desvincula poesia e fruição, defende o desarranjo e o desalinho da forma e aposta na exposição das contradições que caracterizam a percepção da vida pelo homem moderno.

2. A seguir, foram transcritos fragmentos de dois poemas: "Profissão de fé", do parnasiano Olavo Bilac, e "Os sapos", do modernista Manuel Bandeira. Leia-os com atenção para responder à questão proposta.

Texto 1

[...]


Invejo o ourives quando escrevo:

Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto-relevo

Faz de uma flor.

[...]

Torce, aprimora, alteia, lima

A frase; e, enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito:

[...]


BILAC, Olavo. Profissão de fé. In: Parnasianismo. Seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo. São Paulo: Global, 2006. p. 45. (Roteiro da Poesia Brasileira).

Glossário:



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Page 6

virente: florescente, próspera.

fulvos: louros, ocres.

imoto: sem movimento, imóvel.

decantando: separando, isolando.

Fim do glossário.

Atenção professor: Alphonsus de Guimaraens será estudado mais adiante neste mesmo capítulo. No tópico dedicado a ele, constam dados biográficos. Se julgar pertinente, adiante essas informações para os alunos. Fim da observação.

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1. Identifique no poema um recurso expressivo usado pelo poeta para criar a sonoridade no texto.

Resposta: O poeta usa a aliteração com os sons /K/ e /p/ e a assonância com /e/ e /o/ para criar a sonoridade em seu poema, como se vê em: Cantem Clara Cor; quE dEcantandO vai O prÓpriO infErnO; cantEm Esta mansãO, OndE EntrE prantOs; Cada um esPera o sePrulCral Punhado.

2. Qual o tema do poema? Que figura de linguagem sintetiza o tema?

Resposta: O poema tem como tema a morte, a opção do eu lírico em não tematizar a vida, como fazem outros poetas, mas sim a morte. O símbolo que sintetiza o tema é "inverno" (quarto verso da primeira estrofe).



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Helade: referência à Grécia, ao mundo helênico.

etérea: elevada, sublime, que pertence à esfera celestial.

velinos: pergaminhos finos, papéis.

lascívia: sensualidade, luxúria.

ceva: nutre-se, alimenta-se.

limbos: na religiosidade cristã, moradas das almas sem batismo.

báratros: abismos, infernos.

criptas: túmulos, sepulcros.

dédalos: labirintos.

tétricos: muito tristes, fúnebres.

Fim do glossário.

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Texto 2

O inimigo

A juventude não foi mais que um temporal,

Aqui e ali por sóis ardentes trespassado;

As chuvas e os trovões causaram dano tal

Que em meu pomar não resta um fruto sazonado.

Eis que alcancei o outono de meu pensamento,

E agora o ancinho e a pá se fazem necessários

Para outra vez compor o solo lamacento,

Onde profundas covas se abrem como ossários.

E quem sabe se as flores que meu sonho ensaia

Não achem nessa gleba aguada como praia

O místico alimento que as farás radiosas?

Ó dor! O Tempo faz da vida uma carniça,

E o sombrio Inimigo que nos rói as rosas

No sangue que perdemos se enraíza e viça!

BAUDELAIRE, Charles. O inimigo. In: As flores do mal. Tradução e notas de Ivan Junqueira. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 131.

Glossário:



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Page 8

Correntes de vanguarda

O termo "vanguarda" (do francês avant-garde) tem origem bélica e significa 'o que marcha na frenteÕ. Seu uso no campo das artes demonstra a dimensão combativa das diversas tendências artísticas europeias que, no começo do século XX, buscaram traçar caminhos inovadores, criando paradigmas originais para a criação na pintura, na escultura, na música e na literatura.

Atenção professor: Após a leitura, incentive os alunos a formular suas respostas à pergunta que encerra o texto, bem como a expor suas expectativas em relação ao século XXI, tanto no que se refere ao desenvolvimento técnico e tecnológico quanto sobre o lugar e o papel do ser humano nesse cenário. Se julgar conveniente, inicie uma discussão em sala sobre o assunto. Fim da observação.

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De modo geral, os movimentos de vanguarda europeus se organizaram em torno do trabalho de grupos de artistas, que difundiram seus princípios por meio de panfletos e manifestos, muitos deles publicados em jornais de grande circulação.

Embora cada vanguarda tenha apresentado um projeto específico, todas tinham em comum a crítica à herança cultural do século XIX, considerada conservadora e ultrapassada, e a proposta de libertar as artes do imperativo de representar a realidade de modo figurativo e linear.

A seguir, você conhecerá os principais aspectos de cinco movimentos vanguardistas que contribuíram decisivamente para a abertura de novas perspectivas para o fazer artístico.



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Page 9

Os surrealistas

O surrealismo teve grande expressão nas artes plásticas, com trabalhos de Salvador Dalí, Joan Miró, René Magritte, entre outros.

Em A persistência da memória (1931), Dalí representa três relógios que estão derretendo, cada um marcando uma hora diferente. A paisagem estranha, fantasmagórica, remete à experiência do sonho, um tema caro aos surrealistas.

LEGENDA: A persistência da memória. 1931. Salvador Dalí. Óleo sobre tela, 24 cm X 33 cm. Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA.

FONTE: Bridgeman Images/Keystone Brasil/© Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí/AUTVIS, Brasil, 2016./Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA.

Na literatura, destacam-se, além de André Breton, Antonin Artaud e Louis Aragon. No cinema, o cineasta espanhol Luis Buñuel foi responsável pela produção de filmes surrealistas, como O cão andaluz (1929) e Idade do ouro (1930).

Fim do complemento.

56

Leia, a seguir, trecho do "Manifesto do surrealismo", escrito por André Breton em 1924.

[...]

Tão longe vai a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, a vida real, entenda-se, que, por fim, esta crença se perde. [...]

Vivemos ainda no reinado da lógica, eis, bem entendido, aonde eu queria chegar. Mas os processos lógicos, de nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas de interesse secundário. O racionalismo absoluto que continua na moda só permite considerar fatos de pequena relevância de nossa experiência. [...] Deve-se dar graças às descobertas de Freud. Na trilha de suas descobertas, esboça-se, enfim, uma corrente de opinião, a favor da qual o explorador humano poderá levar mais longe suas investigações, autorizado que estará a não mais levar em conta realidades sumárias. A imaginação está talvez a ponto de retomar seus direitos. Se as profundezas de nosso espírito abrigam forças estranhas capazes de aumentar as da superfície, ou de lutar vitoriosamente contra elas, há todo interesse em captá-las, captá-las desde o início, para submetê-las em seguida, se isso ocorrer, ao controle de nossa razão.

BRETON, André. Manifesto do surrealismo. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação dos principais poemas, manifestos, prefácios e conferências vanguardistas, de 1857 a 1972. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 174.



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narcisismo: amor pela própria imagem, amor excessivo a si mesmo.

hedonismo: culto do prazer, doutrina que considera o prazer individual e imediato como o único bem possível.

Fim do glossário.

62

1. Caracterize o eu lírico do poema.

Resposta: Trata-se de um eu lírico atormentado e melancólico, que se declara perdido e diz chorar a morte da própria alma.

2. O poema apresenta repetição de palavras no final de alguns versos. Esse pode ser considerado um procedimento característico da poesia moderna? Justifique sua resposta.

Resposta: Sim. A repetição de palavras, por se aproximar da linguagem coloquial, afasta-se do rebuscamento característico da literatura mais tradicional. Por isso, o procedimento pode ser encarado como inovador, provocativo e, portanto, moderno.

3. Segundo o texto de Jurandir Freire Costa, por que o sentimento de identidade do homem moderno estaria baseado no narcisismo e no hedonismo?

Resposta: Porque, na modernidade, o homem viveria uma crise de valores, resultante da perda de referências como a família, a religião, o trabalho, a ideia de bem comum, entre outras.

4. Em que medida a reflexão de Jurandir Freire Costa contribui para o entendimento do poema de Sá-Carneiro?

Resposta: A reflexão de Jurandir Freire Costa, ao enfatizar que a crise de valores é uma marca da modernidade, ilumina a compreensão da crise demonstrada pelo eu lírico. Embora o eu lírico não apresente exatamente traços narcisistas e hedonistas, aborda sentimentos desencadeados pela solidão, pelo abandono e pela nostalgia, característicos do homem moderno, que perdeu seus referenciais.

As muitas vozes de Fernando Pessoa

O mais conhecido escritor modernista português é Fernando Pessoa (1888-1935). Sua vasta produção literária e crítica se destaca pelo caráter experimental e pela qualidade artística. Como poeta, ele foi extremamente inovador, criando diferentes heterônimos, espécie de máscaras poéticas sob as quais escreveu obras complexas e singulares.

Boxe complementar:




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5. Leia o poema transcrito a seguir, assinado por Álvaro de Campos, para responder às questões propostas:

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido p aciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. p. 418.

a) Como o eu lírico se descreve no texto?

Resposta: O eu lírico se descreve como um ser "inferior" aos demais, portador de características pejorativas. Isso é enfatizado pelo uso de adjetivos como "reles", "porco", "vil", "pessimista", "sujo", "ridículo", "absurdo", "grotesco", "mesquinho", "submisso", "arrogante", "cômico", "errôneo".

b) É possível identificar no texto uma crítica ao modo como se constituem as relações humanas em uma sociedade como a nossa. Explique essa ideia.

Resposta: A sociedade em que vivemos é uma sociedade competitiva, em que todos se esforçam para demonstrar suas qualidades e seus êxitos. Ao se assumir como um homem literalmente vil, o eu lírico enfatiza sua condição de "homem comum" e declara estar farto da superioridade encenada pelas pessoas que conhece.

c) A parte final do poema é marcada por algumas perguntas. A quem elas se dirigem? Qual é a sua função no texto?

Resposta: Elas são dirigidas aos leitores do poema, identificados ironicamente no vocativo "Ó príncipes, meus irmãos". Sua função é envolver os leitores e suscitar sua reflexão.

d) Por que o título do poema pode ser compreendido como uma ironia?

Resposta: Porque o título é "Poema em linha reta" e o texto trata justamente das condutas desviantes, tortas, dos atalhos que todos percorremos em uma trajetória de vida marcada por altos e baixos, êxitos e fracassos.




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- Pesquisa e seleção de informações

A coleta de informações pode ser realizada pela consulta a fontes de pesquisa diversas e, se o tema exigir, pela visita a museus ou outras instituições relacionadas com o estudo e até por entrevistas. É fundamental que todas as fontes de pesquisa utilizadas sejam confiáveis e devidamente indicadas no conjunto de referências incluído ao final do trabalho escrito entregue ao professor, se for o caso, ou de outro tipo de material escrito que venha a ser utilizado na exposição, como slides de apresentação.

Para a realização de um seminário, não basta apenas reunir uma grande quantidade de informações. É preciso saber selecionar e anotar as mais relevantes, considerando os conteúdos que o seu público já conhece e a expectativa que ele tem.

FONTE: Martin Heitner/Alamy/Fotoarena

- Organização das informações

Selecionadas as informações a serem utilizadas no seminário, é necessário organizá-las em tópicos, delineando uma progressão temática que possibilite uma abordagem coerente do assunto pesquisado. Nessa etapa, o grupo deve considerar o tempo determinado para a exposição e os objetivos a serem alcançados com o trabalho.

- Produção do roteiro de exposição

Apesar de ser um gênero oral, o seminário tem como base textos escritos, como você pôde constatar nas etapas anteriores. No entanto, em sua apresentação, o grupo deve expor o conteúdo de forma articulada e não se limitar a ler os textos selecionados. Assim, é muito importante produzir um roteiro que oriente a exposição, no qual constem palavras-chave e tópicos que auxiliem o expositor a não esquecer a fala programada. Alguns textos escritos, como tópicos do roteiro, citações, gráficos e tabelas, podem ser apresentados em slides, transparências ou cartazes (dependendo dos recursos disponíveis), o que serve para orientar e organizar a exposição. Também podem auxiliar na apresentação, materiais visuais e/ou audiovisuais, como vídeos, ilustrações, fotos, mapas e infográficos.




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A dimensão da oralidade no seminário

Como foi comentado anteriormente, não se espera que em um seminário o expositor se limite a ler os textos escritos que servem de suporte para a sua apresentação. A expectativa é que se utilize desses textos e de outros recursos (visuais e audiovisuais) como apoio para desenvolver uma fala espontânea. Essa espontaneidade pode ser apenas ilusória, uma vez que não se trata da mesma fala que caracteriza, por exemplo, a conversação familiar. O expositor programa sua fala, ou seja, ele antecipadamente sabe o que vai dizer, mas, enquanto apresenta, existe uma boa dose de improvisação, decorrente da singularidade que caracteriza a interação em cada novo evento comunicativo.

Observe, a seguir, alguns aspectos que devem ser considerados pelo expositor em sua apresentação.

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- É muito importante falar no tom adequado para que a plateia tenha condições de assimilar o que está sendo dito.

- A fala deve ser expressiva, isto é, deve-se modular a voz, acentuando-se termos ou frases mais relevantes ou criando efeitos de admiração, suspense, reprovação, entre outros, conforme as informações e sensações que se queira transmitir.

- Por se tratar de um gênero oral público, o seminário caracteriza-se pelo emprego de uma linguagem mais formal do que a empregada em uma conversa familiar ou espontânea, em conformidade com o perfil do público. Deve haver maior monitoramento da fala, evitando o uso de gírias e a repetição muito recorrente de marcas da oralidade, como as expressões "né", "aí", "daí", "tá", "sabe", "entende".

- É fundamental que toda mudança de tópico ou subtema seja sinalizada. Por exemplo, pode-se dizer "agora vamos ver como..." ou "para finalizar, falemos de...". Essa estratégia é importante para ajudar no encadeamento dos conteúdos e na consequente compreensão por parte dos ouvintes.

- O expositor deve ficar atento às reações da plateia e, com base nelas, pode retomar explicações, dar exemplos, corrigir colocações ou realizar outras ações que julgue apropriadas. Pode também avaliar o nível de interesse das pessoas e, se for o caso, rever sua forma de interação, tornando-a mais atraente por meio de estratégias como a formulação de perguntas que instiguem a reflexão e a participação mais ativa desse público.

- O expositor deve cuidar também para que se mantenha sempre de frente para o público e em movimento, utilizando-se da gestualidade para colaborar com a expressividade de sua fala.

FONTE: Image Source/Getty Images

Atenção professor: Consulte propostas de atividades complementares para este capítulo no Manual. Fim da observação.

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UNIDADE 2

Há de fato em nosso futurismo quebra de evolução brasileira. É que, coisa mil vezes dita, durante quasi século, com vários lustros de atraso, fomos uma sombra de França. Sombra doirada. Sempre sombra. Nós, os modernistas, quebramos a natural evolução. Saltamos os lustros de atraso. Apagamos a sombra. Mas somos hoje a voz brasileira do coro "1923", em que entram todas as nações.

ANDRADE, Mário de. In: CAMPOS, Maria Inês Batista.A construção da identidade nacional nas crônicas da Revista do Brasil. São Paulo: Olho d'água/Fapesp, 2011. p. 211. (Crônica publicada por Mário de Andrade na Revista do Brasil, em 1923).



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2. Pesquisa e seleção de informações

Após a seleção do tema do seminário, está na hora de elaborar a pesquisa, que pode ser feita individualmente, desde que, depois, haja troca de informações entre os componentes do grupo. É preciso que todos concordem com os rumos do trabalho e combinem quais aspectos do assunto pesquisado devem ser expostos aos colegas. O ideal é fazer uso de diversas fontes de pesquisa para cada subtema, a fim de enriquecer a sua abordagem.

Atenção professor: É muito importante fornecer aos alunos indicações de fontes de pesquisa variadas. Além de livros e artigos de revistas especializadas, podem-se indicar sites confiáveis, vídeos, pessoas que possam ser entrevistadas e visitas a locais que possam ampliar o conhecimento deles sobre o assunto do trabalho. Fim da observação.




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hipocondríaco: em sentido literal, é aquele que se julga permanentemente doente; em sentido figurado, triste, melancólico.

Fim do glossário.

A prosa produzida no início do século XX

As obras mais significativas no estudo do período pré-modernista foram escritas por Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. A leitura da obra desses autores permite examinar como cada uma das vertentes pré-modernistas dedicou-se à investigação social do Brasil do início do século XX.

Euclides da Cunha e o relato de um massacre

Depois de publicar dois artigos no jornal A Província de São Paulo, hoje conhecido como O Estado de S. Paulo, Euclides da Cunha foi chamado, pelo mesmo veículo, para cobrir o conflito de Canudos como repórter.

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Após o contato direto com a situação em que se encontravam os sertanejos, o relato de Euclides da Cunha apresentou uma mudança de perspectiva: o que seria uma reafirmação da necessidade de intervir duramente em Canudos transformou-se numa denúncia da injustiça e do abandono de uma região do país e de seu povo.

Visões de Canudos

Conflito tem interpretações controversas

Da Redação

As razões para a Guerra de Canudos, no Sertão baiano, variam de acordo com a interpretação dada aos documentos da época. Desde o final do século XIX, grupos sociais diversos a explicaram de maneiras diferentes.

Para os grandes proprietários da região, o líder Antônio Conselheiro incentivava saques e invasões; para as autoridades republicanas, tratava-se de uma revolta monarquista; para cidadãos que acompanharam a campanha militar pelos jornais, tornou-se uma questão de honra.

Entre os historiadores surgiram variadas versões do Conselheiro, de manipulador de uma seita milenarista a revolucionário socialista. Atualmente, tem sido identificado como um líder comunitário, de uma cidade sem inovações especialmente revolucionárias, que se tornou um bode expiatório da aristocracia.

O beato Antônio Conselheiro se estabeleceu na região, com centenas de seguidores, em 1893. A figura do Conselheiro é, por vezes, associada ao messianismo, mas sobreviventes do conflito relataram que ele se apresentava apenas como um líder cristão leigo.

A República, instaurada em 1889, era ainda assimilada. A comunidade de Canudos, relativamente independente dos grandes proprietários da região, foi tachada de antirrepublicana por seus adversários. Uma das explicações para o nascimento do conflito foi a insatisfação de fazendeiros locais, que perdiam mão de obra barata, poucos anos depois do fim da escravidão, para o povoado de Canudos.

[...]

Em 1896, um boato de que o Conselheiro planejava saquear comunidades vizinhas - ou cobrar à força uma dívida - ensejou a demonstração de poder por parte do Estado baiano. A primeira expedição - ou tentativa de restaurar a ordem - contra Canudos, liderada pelo tenente Pires Ferreira, foi derrotada.

Em janeiro de 1897, a segunda expedição, com centenas de homens sob o comando do major Febrônio de Brito, também fracassou. Canudos tornou-se falada por todo o Brasil. Na terceira expedição, também malsucedida, morreu o comandante das tropas, o coronel Moreira César.

Popularizou-se a imagem, nunca referendada, de que o Conselheiro representasse os interesses da princesa Isabel. Sob a bandeira de uma República "ameaçada", entre 6 mil e 10 mil soldados rumaram a Canudos na quarta expedição, a partir de junho de 1897. Calcula-se que fossem dez vezes mais numerosos que os combatentes canudenses.

Com uma estrutura de guerra que incluía artilharia e avanço de soldados em duas colunas, o conflito durou até 5 de outubro. No dia seguinte, a vila foi incendiada.

VISÕES de Canudos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2 ago. 2009. Caderno Mais. Disponível em:


www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0208200917.htm. Acesso em: 6 abr. 2016.

Boxe complementar:

FONTE: Reprodução/Coleção Brasiliana da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ.




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NESTA UNIDADE, VOCÊ VAI ESTUDAR OS SEGUINTES CAPÍTULOS:

5. Literatura brasileira do início do século XX

6. A Semana de 22 e a primeira geração modernista

7. Concordância nominal e verbal

8. Produção de texto: conto

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CAPÍTULO 5. Literatura brasileira do início do século XX

PARA COMEÇAR

ATENÇÃO! Não escreva no livro!

LEGENDA: Caipira picando fumo. 1893. José Ferraz de Almeida Júnior. Óleo sobre tela, 70 cm X 50 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.

FONTE: Reprodução/Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP.

Atenção professor: Ver Manual - Item 1. Fim da observação.

- Na pintura acima, Caipira picando fumo, o artista Almeida Júnior (1850-1899) procurou elaborar uma representação realista do homem do campo. Faça a leitura da imagem e indique os elementos responsáveis por criar essa impressão de realismo.

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Outras leituras, mais ideias

Veja algumas sugestões de fontes de pesquisa em livros:

- Poesia concreta brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista, de Gonzalo Aguilar (Edusp, 2005).

- Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos, de Giulio Carlo Argan (Editora Companhia das Letras, 1992).

- Movimentos da vanguarda europeia, de Lúcia Helena (Editora Scipione, 1993).

- O moderno e o modernismo: a soberania do artista (1885-1925), de Frederick Eric (Editora Imago, 1988).

- As vanguardas artísticas, de Mário de Micheli (Editora Martins Fontes, 2004).

- Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas, de 1857 a 1972, de Gilberto Mendonça Teles (Editora Vozes, 1997).

Mundo geek

Veja também algumas fontes de pesquisa em sites:

- FUNARTE - Fundação Nacional de Artes. Disponível em: www.funarte.gov.br. Acesso em: 30 mar. 2016.

- ITAÚ CULTURAL. Disponível em: www.itaucultural.org.br. Acesso em: 30 mar. 2016.



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Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha estudou engenharia na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (RJ). Defensor da República e fortemente marcado pelo Positivismo, foi com olhar determinista que primeiro observou os conflitos de Canudos, que originaram Os sertões, publicado em 1902. A obra foi recebida com entusiasmo pela crítica e levou o autor a ingressar na Academia Brasileira de Letras em 1903. Em 1909, foi nomeado professor de Lógica no Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II. No entanto, Euclides da Cunha não chegou a assumir o cargo, pois morreu numa troca de tiros com Dilermando de Assis, amante de sua mulher.

Fim do complemento.



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