O que é classe média

20/08/2013 07h19 - Atualizado em 11/11/2014 16h08

Associação de pesquisa de mercado lançou novo conceito.Critério tem diferenças em relação ao adotado pelo governo.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

Um novo critério para a definição das classes sociais no Brasil será adotado a partir de 2014 pela Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas (Abep), que representa a atividade de pesquisa de mercado, opinião e mídia do país. O conceito está no livro “Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil”, lançado no último dia 15, e foi elaborado pelos professores Wagner A. Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo).

O critério contrasta com o usado pelo Governo Federal, lançado em 2012 pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Um dos pontos é que estabelece sete estratos sociais, enquanto o da SAE aponta oito.

A faixa de renda familiar em cada um também varia. No da SAE, por exemplo, a renda familiar do grupo “extremamente pobre” (a base da pirâmide) é de até R$ 324, enquanto o novo modelo determina uma base com renda média familiar de R$ 854 (que, por ser média, pode variar um pouco para cima ou para baixo).

O G1 conversou com Mazzon, que apontou as principais diferenças entre os critérios.

GRUPOS DE RENDA DA POPULAÇÃO
Classificação do governo (SAE) Novo critério a ser adotado pela Abep em 2014
GrupoRenda per capitaRenda familiarGrupoRenda média familiar
Extremamente pobre Até R$ 81 Até R$ 3241 R$ 854
Pobre, mas não extremamente pobre Até R$ 162 Até R$ 6482 R$ 1.113
Vulnerável Até R$ 291 Até R$ 1.1643 R$ 1.484
Baixa classe média Até R$ 441 Até R$ 1.7644 R$ 2.674
Média classe média Até R$ 641 Até R$ 2.5645 R$ 4.681
Alta classe média Até R$ 1.019 Até R$ 4.0766 R$ 9.897
Baixa classe alta Até 2.480 Até R$ 9.9207 R$ 17.434
Alta classe alta Acima de 2.480 Acima de R$ 9.920 --
Fontes: Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e livro "Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil"

Renda corrente X renda permanente De acordo com ele, a primeira grande distinção é o conceito de renda corrente, usado pela SAE e no antigo critério da Abep, e a permanente, usado no novo critério. “A renda permanente é a capacidade que uma família tem de manter o mesmo padrão de vida por determinado período de tempo, mesmo que mude a renda corrente”, explica. A renda corrente é aquela que a família tem garantida mensalmente, como salário, aluguel ou a pensão.

O professor explica que mesmo que uma pessoa deixe o emprego, ela pode continuar com o antigo padrão de vida por um determinado período de tempo, mesmo que a renda corrente seja zero – para isso, ela pode usar, por exemplo, recursos de um dinheiro guardado na poupança, crédito etc. “Eu consigo viver mantendo o meu padrão [por um determinado período], mas a renda corrente caiu para zero. Se esta pessoa fosse medida pelo outro critério, ela saiu da linha”, afirma.

Renda corrente declarada X renda comprovada
Mazzon explica que o novo critério usa dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que é mais criteriosa do ponto de vista de comprovação de renda. Na prática, isso significa que quando o pesquisador entrevista as pessoas, ele exige uma comprovação de que o entrevistado de fato recebe o que falou. “As pessoas, mesmo honestas, dão um conceito muito limitado [da renda]. Nós usamos a renda comprovada. O pesquisador fala: ‘Me mostra o holerite para ver o quanto está ganhando’”, explica.

De acordo com o professor, a SAE utiliza a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) para seus padrões, que não exige a comprovação e se vale apenas da declaração do entrevistado. “A Abep atualmente usa a renda corrente declarada também”, diz.

Regionalização e composição familiar


Uma terceira distinção destacada pelo professor é a regionalização das famílias. “A SAE tem oito estratos socioeconômicos, a renda corrente é igual tanto para quem mora em São Paulo quanto para uma família que mora na beira do Rio Amazonas. Só que o poder aquisitivo de quem tem R$ 300 de renda per capita (por pessoa) é diferente nos dois lugares”. Mazzon cita ainda que o novo critério leva em conta a composição familiar, porque a mesma renda permanente em um domicílio permite padrões de vida diferentes de acordo com a quantidade de pessoas que vivem no local. Com a mesma renda, dois adultos conseguem manter um padrão de vida mais elevado do que um domicílio com três adultos e duas crianças. “Se você combina as duas coisas, de um lado a variável que é a região demográfica e tipo de domicílio e de outro a composição familiar, eu faço correção da renda entre duas características e uma pessoa que em São Paulo estaria no estrato três, de repente, ela vai estar classificada como estrato dois no interior do Piauí", explica. Segundo o pesquisador da USP, os novos critérios são mais precisos do que os usados anteriormente pela associação e dão subsídios às empresas na realização de campanhas de marketing e decisões estratégicas que dependem de análise de potencial de mercado. “Claro que serve para política pública, não há a menor dúvida que pode ser usado também na área de marketing social.”

O professor afirma ainda que a definição criteriosa de classes sociais no Brasil é importante por uma questão de justiça social. “As classes que nos quereremos mostrar têm perfis diferentes. Quando eu falo em perfil estou falando de um padrão de vida como um todo. Se a gente quiser uma sociedade menos desigual, a gente teria que reduzir distâncias entre classes socioeconômicas”, avalia.

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Autor:Equipe Mais Retorno

Data de publicação:23/10/2020 às 02:09 - Atualizado 2 anos atrás

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A classe média é uma das classes sociais presentes na definição do capitalismo moderno. Faz parte dela uma parcela da população que tem certo poder aquisitivo e um padrão de consumo e de vida razoável, que pode se permitir usufruir de algumas formas de lazer e de cultura e não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência.

Embora quem faça parte dela tenha acesso a mais oportunidades e um maior consumo que as classes mais baixas, ainda não chega aos padrões de consumo que, muitas vezes, são exclusivos das classes superiores. Essa nomenclatura surgiu como uma consequência da consolidação do capitalismo como resultado do desenvolvimento econômico. Portanto, é um fenômeno típico da industrialização.

Como a classe média foi classificada durante os anos?

Durante muitos períodos, a classe média já teve muitos significados — alguns deles até contraditórios. Uma das vezes, por exemplo, foi definida como uma classe intermediária entre a nobreza e os camponeses da Europa. Nessa época, também chamada de “nova burguesia”, a população que fazia parte dela exercia funções mercantis nas cidades e, geralmente, era a camada mais rica da sociedade.

As primeiras referências a essa classe surgiram ainda no final do século XVIII. Nessa época, Thomas Gisborne se referiu a existência de uma parcela da população que se encaixava no meio termo entre os senhores das terras, que eram os mais ricos, e os trabalhadores urbanos e agrícolas — ou seja, os mais pobres. Nessa denominação de classe, ficavam incluídos todos os profissionais liberais ligados a trabalhos não manuais, assim como os alfabetizados e detentores de algum tipo de diploma.

Hoje em dia, o termo classe média se refere a qualquer parte da população que tenha apenas uma quantia moderada de riquezas. A expansão do termo na sociedade moderna apareceu, em tese, na década de 1970 nos Estados Unidos, com o declínio das companhias sindicais e com a entrada das mulheres no mercado de trabalho formal.

Qual parcela da população pode ser considerada como classe média?

Por mais que a definição de classe média dependa de uma série de questões atreladas à sociedade em questão, existem alguns pontos que as pessoas pertencentes a ela têm em comum. O ambiente, a rede de amizades, as maneiras e os valores sociais influenciam — e muito — nesse resultado.

O primeiro dos fatores que pode identificar uma pessoa pertencente à classe média é o alcance de uma educação de nível acadêmico — ou de grau superior. Além disso, ter qualificações profissionais também entra na equação e aqui se encaixam médicos, advogados, professores universitários e outras profissões, independentemente de quanto ganham ou quais são suas formas de lazer.

Ter um emprego com estabilidade financeira e social também é um indicativo de classe média. Outra indicação é a identificação cultural, pois essa é a parcela que mais participa ativamente da cultura popular.

Quais são as classificações da classe média no Brasil?

A pesquisa para delimitar quem faz parte da classe média no Brasil utiliza apenas o critério de renda e é definida pelo governo. Sendo assim, fica instituído que faz parte dessa classe social é quem vive em famílias com renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019.

Dentro dessa variação existem 3 ramificações que dividem ainda mais o conceito de classe média e a primeira delas é a classe média baixa, onde a renda per capita da família vai de R$ 291 a R$ 441. Já na classe média “média”, a renda por pessoa varia de R$ 442 a R$ 641. Por fim, a classe média alta é a denominação para famílias com renda de R$ 642 a R$ 1.019.

Para efeito de comparação, nos Estados Unidos também não há um consenso forte para definir a classe média. No país, a renda de famílias inseridas nessa denominação pode variar de US$ 39 mil a US$ 118 mil anuais.