O que é o cinema

O conceito de cinema é bastante variável, por isso trago algumas sugestões para pensarmos o que é cinema por meio de algumas perspectivas

O que é o cinema
Livro com textos de André Bazin

Segundo André Bazin, o Cinema é um fenômeno idealista.

A ideia que os homens fizeram dele já estava armada em seu cérebro como no céu platônico, e o que impressiona, acima de tudo, é a resistência tenaz da matéria à ideia, mais do que as sugestões da técnica à imaginação do pesquisador”.

Bazin, traz no livro O que é o cinema? pelo menos duas concepções.

Na minha visão, a mais interessante delas é a de que o cinema é um fenômeno idealista.

Primeiro falaremos desse fenômeno apontado por Bazin, depois discorrerei sobre sua perspectiva mais técnica e igualmente válida para compreendermos a Sétima Arte. Depois discutiremos olhares de outros autores para nos ajudar a refletir sobre o tema.   

 

1. Um fenômeno idealista

Quando Bazin elabora esse pensamento, ele nos provoca a pensar que a ideia de cinema já existia no imaginário das pessoas. Assim, era possível imaginar e projetar em nossas mentes as imagens que, com o advento do aparelho de projeção, circulavam em nossas memórias. O cinema não seria, portanto, uma grande novidade. Ele diz:

O Cinema é um fenômeno idealista. A ideia que os homens fizeram dele já estava armada em seu cérebro como no céu platônico, e o que impressiona, acima de tudo, é a resistência tenaz da matéria à ideia, mais do que as sugestões da técnica à imaginação do pesquisador”.

(Bazin, 1946)

2. Cinema é a consecução da imagem no tempo

O que é o cinema
Irmãos Skladanowsky com o bioscópio

O próprio Bazin reduzira os inventores dos aparelhos de projeção a megalomaníacos. Dessa forma, nos caso dos irmãos Lumières – que filmavam eventos prosaicos da vida moderna -, se utilizavam de pequenas histórias para demonstrar como o cinematógrafo funcionava.

Entretanto, os filmes estavam à serviço do projetor inventado (não o contrário). Até porque em 1985 não se sabia nada sobre potência do cinema enquanto espetáculo. 

O que é o cinema
Thomas Edison com o cinetoscópio

Naquele momento, muitos inventores estavam em busca do advento da imagem em movimento.

O meio era a grande novidade, não a mensagem. Entre os inventores, estavam Thomas Edison com o cinetoscópio, os irmãos Skladanowsky com o bioscópio e muitos outros.

O que todos eles tinham em comum era a obsessão pelo objeto mecânico, pela trucagem ótica que traria a percepção de movimento. 

Se antes do cinema tínhamos apenas as imagens estáticas, bem como a pintura e a fotografia, a partir daquele momento poderíamos contemplar uma imagem que se movia. Algumas pessoas contam que no momento da exibição do filme A chegada do trem na estação, o público teria se assustado com a ideia de que pudessem ser atropeladas.

 Nesse sentido, Bazin diz:

“O Cinema vem a ser a consecução no tempo da objetividade fotográfica. O filme não se contenta mais em conservar para nós o objeto lacrado no instante, como no âmbar o corpo intacto dos insetos de uma era extinta – ele livra a arte barroca da sua catalepsia convulsiva. Pela primeira vez, a imagem das coisas é também a de sua duração, qual uma múmia da mutação”

André Bazin

As definições sobre cinema se somam a outras percepções. Podemos ainda entendê-lo como um fenômeno social. 

3. Fenômeno social 

Mas o que o cinema significa para outros teóricos?

Bom, muitos teóricos também vão definir o cinema como uma experiência coletiva. Por isso mesmo, a exibição promovida pelos Lumiéres é um marco na história do cinema, pois é considerada como tendo sido a primeira exibição pública e paga

A partir do momento em que um grupo de pessoas se reúne em torno de um filme para assistir  e compartilhar aquela experiência em um mesmo lugar (sala de cinema), podemos conceber essa perspectiva coletiva acerca do cinema. Mas não só por isso.

Jean Claude Bernardet vai descrever esse processo da ida ao cinema em detalhe. Segundo ele, trata-se de um complexo ritual que envolve diversos elementos distintos, a começar pelos nossos gostos, publicidade, pessoas e firmas.

O autor aponta que o cinema seria não só a reprodução da realidade, mas a visão das pessoas que o fazem. Quem domina os meios, domina a possibilidade de fala. Será que o cinema poderia então reproduzir a realidade ou a formulação dela? Bernardet diz:

“A classe dominante, para dominar, não pode nunca apresentar sua ideologia como sendo sua ideologia, mas ele deve lutar para que essa ideologia seja sempre entendida como a verdade.(…) O cinema, como toda área cultural, é um campo de luta, e a história do cinema é também o esforço para denunciar esse ocultamento e fazer aparecer quem fala

Isso nos faz pensar para além dos filmes projetados. Cinema é mais que filme. É  também o efeito de realidade e os sentidos que ele produz. 

Muito mais que filme

O cinema começa a atrair uma grande quantidade de pessoas. Neste mundo capitalista em que vivemos, onde se tem gente prestando atenção em um determinado objeto, há ali uma oportunidade financeira. O cinema não passaria ileso. 

Antes da virada do século XIX para o século XX, vemos surgir as empresas Pathé e Gaumont na França que operavam na produção e exibição de filmes e, principalmente, na fabricação de aparelhos de projeção. A partir dos anos 1910 o cinema começa a ser industrializado e segue a lógica de produção em larga escala.  

O que é o cinema

Com o desenvolvimento da linguagem cinematográfica, o cinema foi percebido como uma indústria “séria”.

Para entender essa dimensão acerca do que é cinema precisamos olhar para a participação das mulheres da história do cinema.

Nos Estados Unidos, os investidores começaram a olhar para esse mercado. Dessa forma, sendo uma indústria “séria”, o ambiente machista entendeu que a atividade era mais adequada aos homens, reduzindo a participação das mulheres na realização de filmes.

“Antes de 1920 havia mais mulheres trabalhando na indústria de cinema do que em qualquer outro período” (Anthony Slide, 1977).

Entre 1910 e 1920, temos a consolidação de uma das maiores indústrias de cinema do mundo: Hollywood.

A partir dos anos 1930, essa indústria encontrou a fórmula do Sistema de Estrelas para vender cada vez mais bilhetes para as salas de cinema, no qual baseava, sobretudo, as campanhas publicitárias na figura de uma grande diva ou galã do cinema. 

Ao longo dos anos, esse modelo industrial sofreu altos e baixos em decorrência de transformações da sociedade estadunidense e a um contexto sociopolítico bastante complexo, mas conseguiu se consolidar enquanto indústria até os dias de hoje. Isso definiu o que é cinema para a sociedade capitalista.

5. Cinema é política

Assim como as grandes empresas viram no cinema uma oportunidade lucrativa de negócio, os governos perceberam no cinema um espaço fértil de disseminação de ideias e construção de imaginários. Dessa forma, podemos citar os EUA como forte exemplo histórico dessa prática. Assim, para discorrer sobre o tema, vamos convidar o professor Valim, autor do livro abaixo.

O que é o cinema

Durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, o país usou o cinema como forma de conquistar apoio da população dentro e fora do país. Assim, como parte estratégica dos esforços de guerra, muitos filmes foram responsáveis por constituir imaginários voltados a uma mensagem pró-guerra.

Os exemplos são muitos e excedem a proposta deste breve ensaio, mas deixo a indicação do livro O Triunfo da Persuasão: Brasil, Estados Unidos e o Cinema da Política de boa Vizinhança Durante a II Guerra Mundial, de Alexandre Busko Valim que elabora de forma aprofundada essa temática, no período da Segunda Guerra Mundial. 

Contudo, não foram somente os estadunidenses que viram o cinema como uma potência política. Na Escola de Cinema Soviético – primeira escola de cinema do mundo, fundada em 1920 –  os cineastas faziam cinema como quem constrói uma nova sociedade. Por meio da montagem dialética, era possível pensar aquela arte, sobretudo, como agente transformador daquela sociedade. 

De maneira geral, movimentos cinematográficos como os cinemas novos, com estilos modernistas, também possuem bastante política e ideológica. 

Contudo, não se pode, sob  nenhuma hipótese, afirmar que filmes são apenas filmes e que não são, portanto, visões políticas ou ideológicas acerca do mundo.

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POR QUE TODO FILME É POLÍTICO E IDEOLÓGICO?

Por fim, nem as 400 páginas do livro de Bazin, tampouco as poucas palavras deste ensaio poderão definir o que é cinema.

Poderá alguém fazê-lo?

A beleza dessa arte é, portanto, que ela pode ser observada por meio das cinco perspectivas aqui apresentadas e também por muitas outras. Te convido para este debate.

O que é cinema para você?

Comente e me conte!

Gravei uma aula sobre o tema: