O que é um talibã

O que é um talibã
Tropas do Talibã em 1996. Foto: AFP.

Este texto vai te explicar mais sobre o Talibã e é o sexto de uma trilha de conteúdos sobre grupos terroristas. Confira os demais posts da trilha: 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 – 11

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O Talibã é um grupo que atua no Afeganistão e no Paquistão desde os anos 1990. Conhecido pelas suas regras rígidas, o grupo responsável por inúmeros ataques tem retomado seu crescimento nos últimos anos. Quer saber como age o Talibã no terrorismo? Acompanhe este post!

Quer entender melhor o que é terrorismo? Confira aqui!

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No contexto da Guerra Fria, ao final da década de 1970, o Afeganistão já se encontrava em meio a disputas internacionais de poder. O país sofreu uma ocupação pela então União Soviética, entre 1979 e 1989, que buscava garantir e manter a implementação de um regime comunista alinhado à Moscou.

Seguindo a lógica de combater um “inimigo em comum”, os Estados Unidos ofereceram treinamento e equipamentos militares aos Mujahedin, um grupo de combatentes armados que lutavam contra a ocupação soviética. Após uma década de conflito, a União Soviética decidiu retirar suas tropas do Afeganistão em fevereiro de 1989.

Com a retirada dos soviéticos do país, e com a destituição do governo de Mohammad Najibullah em 1992, parte dos Mujahedin que haviam sido apoiados pelos Estados Unidos se organizaram. Como veremos mais adiante, o grupo se radicalizou, baseando-se em uma interpretação fundamentalista do Alcorão, e formou o que hoje conhecemos como o Talibã. Desta forma, a disputa internacional entre as duas superpotências da Guerra Fria – Estados Unidos e União Soviética – deixaram consequências indesejadas para os afegãos.

Quando as tropas soviéticas deixaram o Afeganistão nos anos 1990, o país foi tomado por uma série de conflitos entre facções que brigavam pelo controle da nação. Neste contexto de guerra civil, surge em 1994 o Talibã, sob a liderança do .

O grupo, criado no sul do Afeganistão, tem origem nas tribos que ocupavam a fronteira do país com o Paquistão. É formado principalmente pelos pashtun, um povo que lutou contra o imperialismo britânico, a invasão soviética e hoje se dedica a combater a intervenção do ocidente na região.

Em 1997, pouco tempo após o seu surgimento, o Talibã conquista o controle do Afeganistão, sendo muito bem recebido por significativa parte da população. Isto porque, após um longo período de guerras, o grupo estabeleceu a paz no território, combateu a corrupção e tornou as estradas mais seguras para o desenvolvimento do comércio. Apesar apoio interno, o Talibã só teve o seu governo reconhecido por três países: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Paquistão.

Após os ataques em 11 de setembro de 2001, o Afeganistão foi invadido pelas tropas estadunidenses. As alegações de que o Talibã protegia Osama Bin Laden – responsável pelo ataque – motivaram uma coalizão liderada pelos Estados Unidos a destituir o Talibã do poder. Mas isso não impediu o grupo de continuar exercendo influência, na época controlando quase 90% do Afeganistão. Os Talibãs continuaram sua luta, agora na clandestinidade.

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Quando surgiu, o Talibã tinha como objetivo restaurar a paz e a segurança em um Afeganistão marcado pela guerra civil e pelas interferências estrangeiras. Mas não era só isso! O grupo também pretendia impor sua versão da Sharia, . Com o tempo, suas motivações os levaram a cometer ações bastante rígidas, como execuções públicas, proibição de toda a influência ocidental, proibição do cinema, da música e da televisão, obrigatoriedade do uso da burca pelas mulheres e proibição de escolas para as meninas.

Desde a ocupação do Afeganistão a partir de 2001, as ações do Talibã passaram a ser pautadas na recuperação do território e em expulsar os Estados Unidos e a OTAN do país. O grupo, portanto, não deixou de estar em atividade.

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O Talibã não foi completamente derrotado pelas tropas dos Estados Unidos em 2001. Na verdade, o grupo reorganizou sua estratégia e atuação. Suas zonas de influência foram mantidas nas áreas de difícil acesso do país, incluindo a região da fronteira com o Paquistão, assim como o grupo também realocou alguns de seus membros para fora do país.

A organização, neste período, promoveu tentativas de avanços sobre alguns territórios por meio de táticas de guerrilha. Além disso, o grupo realizou e assumiu alguns ataques terroristas que ocorreram entre essas duas décadas de ocupação no Afeganistão.

O que é um talibã
Malala Yousafzai venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2014. Foto: Pietro Naj-Oleari/ European Parliament.

O Talibã é responsável por diversos ataques, mas sem dúvidas o mais conhecido deles aconteceu em outubro de 2012, quando a estudante Malala Yousafzai foi baleada ao sair da escola, na cidade de Mingora, Paquistão. Na época com 15 anos, Malala já se destacava no país por sua luta pela educação de meninas e adolescentes. O caso passou a ser acompanhado por todo o mundo e dois anos depois, aos 17 anos, Malala foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho em defesa da educação feminina.

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O Afeganistão possui dois conhecidos grupos terroristas atuando em seu território: o Talibã e a Al-Qaeda. Inicialmente, esses dois grupos eram opositores, mas essa relação foi mudando ao longo do tempo. Após um encontro entre Osama Bin Laden e o Mullah Mohammed Omar, em 1996, os dois grupos estabeleceram uma aliança, principalmente para unir forças no controle do Afeganistão.

Mas apesar de serem aliados, existem enormes diferenças entre o Talibã e a Al-Qaeda. A principal delas é que o Talibã é uma organização provincial, que age apenas na sua região e não realiza ataques em países do ocidente, ao contrário da Al-Qaeda. Outra diferença é que o Talibã é composto por membros de tribos afegãs, enquanto a Al-Qaeda é composta por árabes.

Qual a diferença entre terrorismo e islamismo? Descubra aqui.

Hoje o Talibã atua no Afeganistão e no Paquistão e tem como objetivo implementar a Sh e recuperar o controle dos territórios, com ofensivas contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e os governos do Paquistão e Afeganistão. Para isso, a organização utiliza táticas de guerrilha e ataques de homens-bomba. No Paquistão, a mesma é nomeada de Tehrik-i-Taliban Pakistan.

O atual líder do grupo é o Mullah Haibatullah Akhunzada, que assumiu a liderança com a difícil missão de unificar as diversas facções do grupo. As táticas utilizadas para combater a organização terrorista são diferentes nos dois países: no Paquistão, o governo tenta dialogar com o grupo, sem sucesso, enquanto no Afeganistão, o governo recebia treinamento de contraterrorismo das forças dos Estados Unidos e da Otan.

A estratégia dos Estados Unidos era de fortalecer o governo e o exército afegãos para que o próprio país tivesse capacidade de frear os avanços do Talibã. Gradativamente, ao longo das duas décadas de ocupação, os Estados Unidos diminuíram o seu contingente no país – algo diferente da retirada das tropas soviéticas em 1989, que aconteceu de maneira mais pontual e ágil. 

Somente em 2020 o governo dos EUA materializou o interesse formal de retirar as tropas, no qual um acordo foi assinado com o Talibã ainda sob a gestão Donald Trump. A retirada das tropas americanas, no entanto, só foi concretizada em abril de 2021, quando o novo presidente Joe Biden anunciou que o exército dos Estados Unidos encerraria a sua ocupação até setembro deste mesmo ano. Infelizmente, o processo de negociação foi mal-sucedido, a retirada das tropas foi mal avaliada, e o grupo voltou novamente ao caminho de dominação do país.

Ao passo que a presença militar norte-americana foi sendo removida do Afeganistão, o Talibã, aos poucos, começou a retomar o controle sobre os territórios do país da Ásia Meridional. Em agosto de 2021, com quase ¾ do território afegão já ocupado pela organização, a mesma tomou o controle da capital, Cabul, e ocupou a sede do governo nacional, causando a fuga do até então presidente Ashraf Ghan para o vizinho Tajiquistão.

Enquanto os extremistas assumiam o comando, diplomatas e cidadãos de diferentes nações começaram a abandonar o país, bem como a sua própria população: mais de 250 mil afegãos fugiram de suas localidades desde maio, e multidões aflitas tentaram fugir do país diante da reascensão do Talibã ao poder. 

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Fontes: 

Texto originalmente publicado em 09 de agosto de 2017. Última atualização em 26 de agosto de 2021.

Na língua pashtun, Talibã significa estudante. Em 1994, ex-guerrilheros pashtuns -- o maior grupo étnico do Afeganistão --, que participaram da expulsão de forças soviéticas com o apoio dos EUA e do Paquistão, formaram um grupo. Fundado por Mohammad Omar, o grupo extremista prometia restaurar a paz e segurança no país, baseado na instauração Lei Islâmica.

Quando tomaram o poder na década de 1990, fizeram com que o Afeganistão se transformasse em uma espécie de emirado islâmico, onde as regras seriam baseadas na leitura que o Talibã fazia do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. De acordo com esta leitura, as mulheres seriam impedidas de sair de casa sem a companhia de um homem, o uso da burca seria obrigatório além de serem proibidas de estudar e trabalhar.

O grupo teve uma participação direta no atentado contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. O Talibã protegeu o líder da Al-Qaeda, Osama bin-Laden, além de outros integrantes. Como consequência, as tropas americanas invadiram o Afeganistão em 2001, colocando fim ao governo extremistra no país.

Após o fim do governo Talibã no Afeganistão, o grupo se refugiou em uma região que faz fronteira com o Paquistão, um dos poucos países que reconhecia o governo Talibã como legítimo. A permanência militar dos Estados Unidos no Afeganistão também fez com que o sentimento anticolonialista ficasse mais forte. Ao longo dos anos, o Talibã foi ganhando espaço, através de um recrutamento de guerrilheiros. Agora, o grupo extremista quer recuperar o que perdeu após a intervenção dos EUA na região.

O Talibã controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando seguiu uma versão radical do islamismo nos costumes, vetando o consumo de álcool e a livre circulação de mulheres.

A rápida ofensiva militar do grupo, que em duas semanas tomou 26 das 34 capitais de províncias, acontece no vácuo da saída das tropas americanas.

Os EUA estavam no país desde 2001, após terem tomado o controle do próprio Talibã e tentado criar instituições de Estado junto ao governo afegão.

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Na tarde deste domingo, o aeroporto de Cabul virou cenário de caos à medida em que civis e oficiais estrangeiros tentavam deixar o país.

O presidente americano, Joe Biden, enviou mais mil soldados à região para assegurar a evacuação da Embaixada dos Estados Unidos. Outras potências ocidentais, como Reino Unido e Alemanha, também estão evacuando a região.

A embaixada dos Estados Unidos em Cabul disse que a situação de segurança no aeroporto estava mudando rapidamente e que havia relatos de tiros enquanto as tropas dos EUAajudavam na evacuação de funcionários norte-americanos.

Além do controle da capital, o Talibã também garantiu hoje que havia assumido ainda o controle da prisão militar de Bagram, que foi durante anos um símbolo da ocupação militar das forças internacionais no Afeganistão. Os presos foram libertados.

O local abrigava muitos líderes da insurgência do Talibã e centenas de presidiários, e foi usada como a maior e mais importante prisão dos EUA no Afeganistão. O controle da polêmica prisão foi transferido para o governo afegão em 2013.

Embora o centro fosse considerado uma fortaleza por sua alta tecnologia militar, os americanos deixaram o local sem prévio aviso e sem treinar as forças afegãs para o uso do equipamento, apontaram oficiais locais após a saída dos norte-americanos.

O que levou à guerra no Afeganistão

A promessa do presidente americano, Joe Biden, foi de retirar todas as suas forças do Afeganistão antes do 20º aniversário dos ataques de 11 de setembro, que aconteceram em 2001.

Com a maior parte das forças americanas já fora do país, era esperado que o Talibã avançasse, mas a ofensiva aconteceu de forma ainda mais rápida do que o previsto.

Apesar dos avanços do Talibã, Biden disse que não mudaria de ideia sobre a saída americana. Mais de 70% dos americanos dizem apoiar a retirada.

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Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, após o 11 de setembro, acusando o país, controlado então pelo Talibã, de estar escondendo o terrorista Osama Bin-Laden, da Al Qaeda e que se disse responsável pelo ataque às Torres Gêmeas.

Desde então, o governo afegão conseguiu retomar parte do país com o apoio das forças armadas americanas, mas o Talibã nunca deixou de ser uma ameaça e a guerra nunca foi de fato vencida, diferente do que os EUA imaginavam.

Em dado momento, antes de 2012, os EUA chegaram a ter mais de 100.000 soldados no Afeganistão, e o custo da guerra com o Talibã chegou a 100 bilhões de dólares por ano.

A estimativa do Departamento de Defesa dos EUA é que a guerra no Afeganistão tenha custado só até 2019 mais de 770 bilhões de dólares, mas projeções apontam que o custo já supera 1 trilhão de dólares.

Sucessivos governos americanos vinham sendo pressionados a encerrar a "guerra sem fim" no Afeganistão. O governo Biden foi eleito prometendo lidar com problemas internos dos EUA e encerrar guerras no exterior, que vinham drenando recursos públicos americanos.

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Esse dilema fez o atual secretário de Estado americano, Antony Blinken, defender a saída norte-americana há algumas semanas.

"A ameaça terrorista mudou para outro lugar. E temos outros assuntos muito importantes em nossa agenda, incluindo o relacionamento com a China, incluindo lidar com questões que vão desde a mudança climática até a covid", disse Blinken à rede ABC.

Neste domingo, no entanto, após a entrada do Talibã em Kabul, Blinken admitiu que a rapidez com que o grupo retomou o controle foi surpreendente.

Na outra ponta, nomes como o chefe da CIA, William Burns, e alguns generais dos EUA, como o ex-chefe militar David Petraeus, haviam argumentado que essa medida poderia mergulhar o Afeganistão em mais violência e, ainda, deixar os Estados Unidos mais vulneráveis a ameaças terroristas.

Confira os principais acontecimentos desde domingo (15)

Portões de Cabul

No domingo, 15 de agosto, o Talibã chegou a Cabul, depois de uma ofensiva fulminante que começou em maio, após o início da retirada das tropas dos Estados Unidos e da Otan.

Nos últimos dez dias, os insurgentes tomaram todas as grandes cidades do Afeganistão, encontrando pouca resistência.

"O Emirado Islâmico ordena que todas as suas forças permaneçam nos portões de Cabul, que não tentem entrar na cidade", tuitou Zabihullah Mujahid, um porta-voz do Talibã.

Mas os habitantes de Cabul apontam para a presença dos talibãs na periferia da capital.

Promessa de "transferência pacífica do poder"

O ministro do Interior afegão, Abdul Sattar Mirzakwal, promete em uma mensagem de vídeo "uma transferência pacífica de poder para um governo de transição".

O presidente afegão, Ashraf Ghani, pede às forças de segurança que garantam a "segurança de todos os cidadãos", mantendo a ordem pública em Cabul.

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Grande inquietação

A comunidade internacional expressa preocupação: o papa Francisco apela ao "diálogo", a Otan a "uma solução política para o conflito".

A Rússia está trabalhando com outros países para realizar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

O pânico se instala em Cabul: as lojas fecham e as pessoas correm para sacar seu dinheiro dos bancos.

Os países estrangeiros organizam apressadamente a evacuação de seus cidadãos e dos afegãos que trabalhavam para eles.

Partida do presidente Ashraf Ghani

Na noite de domingo, o presidente afegão Ashraf Ghani deixou o país, disse o ex-vice-presidente Abdullah Abdullah.

Anteriormente, o Talibã alegou que seus combatentes entraram em vários distritos da capital afegã, contrariando as ordens iniciais.

Por outro lado, várias fontes do Talibã disseram à AFP que os insurgentes assumiram o controle do palácio presidencial.

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"Os talibãs venceram"

Imagens da televisão confirmam que os talibãs entraram na capital afegã e tomaram o palácio presidencial.

O presidente Ghani, por sua vez, disse em uma mensagem no Facebook que fugiu do país para "evitar um banho de sangue" e reconhece que "o Talibã venceu".

Ele não informou para onde foi, mas o grupo de imprensa afegão Tolo sugere que ele viajou para o Tadjiquistão.

Horas depois, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apela ao Talibã e todos os partidos no Afeganistão a se comportarem "com muita moderação".

Pânico no aeroporto

Uma maré humana correu nesta segunda-feira, 16 de agosto, para o aeroporto, único meio de saída do país.

Os vídeos mostram centenas de pessoas correndo perto de um avião de transporte militar dos Estados Unidos, em direção à pista, algumas delas tentando se segurar em suas laterais ou nas rodas.

Outros vídeos mostram cenas de caos total nas pistas, com civis lutando para subir as passarelas ou escadas que levam aos aviões.

O tumulto é tanto que tropas americanas, que garantem a segurança do aeroporto, atiraram para o alto para controlar a multidão. Todos os voos comerciais foram suspensos.

A pedido do Afeganistão, empresas internacionais suspenderam o sobrevoo no país enquanto aviões militares, principalmente americanos, evacua funcionários diplomáticos e locais.

A União Europeia planeja uma reunião por videoconferência com a participação de seus chanceleres nesta terça-feira.

Fim da vacinação

De acordo com o portal local de notícias Shamshad News, a vacinação já foi interrompida na província de Paktia, no leste do Afeganistão. Desde a tomada da província pelo grupo, as vacinas contra a covid-19 pararam de ser distribuídas pela região.

Walayat Khan Ahmadzai, diretor provincial de saúde pública da região, disse em entrevista ao Shamshad News que o Talibã ordenou os funcionários do hospital regional para pararem de distribuir o imunizante, o que resultou no fechamento imediato dos postos de vacinação da região, enquanto médicos e críticos buscam acatar as ordens impostas temendo represálias violentas do grupo.

De acordo com Ahmadzai, a enfermaria responsável pela aplicação das doses está fechada há três dias e os cidadãos são informados de que a vacinação foi proibida. O Talibã alertou a equipe de distribuição de vacinas para evitar distribuí-las, acrescentou Ahmadzai. Até o momento, não há informações concretas sobre como está a campanha de vacinação no resto do país.

Segundo dados do portal Our World in Data, o Afeganistão aplicou, até o momento, cerca de 770 mil doses da vacina contra a covid-19, o que representa cerca de 2% da população e apenas 0,5% da população do país completou a vacinação.

Reação internacional

A China acusou nesta terça-feira, 17, os Estados Unidos de deixarem "um caos terrível de distúrbios, divisão e famílias desfeitas" no Afeganistão. Pequim destacou sua disposição a cooperar com os talibãs após a retirada dos Estados Unidos, a qual estimulou um rápido avanço desses islamitas de linha radical em todo o país, cuja população presenciou como tomaram a capital Cabul no domingo.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse que o país está pronto para continuar as relações "amigáveis e cooperativas" com o Afeganistão e pediu ao novo regime afegão para "fazer uma ruptura limpa com as forças internacionais" e "evitar que o Afeganistão se transforme novamente em um ponto de encontro para terroristas e extremistas".

Pressionado dentro de casa pela saída do Afeganistão e retorno do Talibã, o presidente dos EUA, Joe Biden , se defendeu das críticas à retirada americana. Na fala, Biden repetiu a narrativa que já havia anunciado em comunicados anteriores: que em algum momento a presença americana no Afeganistão precisaria acabar, e que os EUA não podem ser responsáveis pela "construção de um país".

O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou uma iniciativa europeia para lidar com os fluxos de imigrantes do Afeganistão. Num discurso na televisão, Macron alertou que a desestabilização do Afeganistão pode gerar fluxos migratórios irregulares e afirmou que embora a França continue a proteger "os mais ameaçados", a Europa sozinha não pode suportar as consequências da situação real.

"Será lançada uma iniciativa para construir, sem esperar mais, uma resposta robusta, coordenada e unida", afirmou Macron em seu discurso. O presidente disse que já conversou sobre o plano com a chanceler alemã, Angela Merkel.

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(Com Estadão Conteúdo e agências internacionais)

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