Qual a importância da religião na sociedade

Por Edivaldo Tagliari

Na próxima terça-feira, dia 21 de janeiro, é comemorado o Dia Mundial da Religião. O objetivo da criação da data foi de promover a união de todas as religiões existentes no mundo, levando mais fé e esperança ao povo.

A palavra religião vem do latim “religio,onis” e seu significado define-a como o conjunto de determinadas crenças e dogmas que levam o homem ao sagrado, onde cada uma apresenta suas práticas e ritos próprios, envolvendo ainda formas de comportamento e de cumprimento dos preceitos morais. A origem da palavra é discutida, apresentando-se, entre outras, o verbo RELIGARE, “atar firmemente”, de RE-, intensificativo, mais LIGARE, “unir, atar”, pelo sentido de “atender a uma obrigação” ou mesmo “laço entre o ser humano e o divino”.

Não há dúvidas de que a religião tem para o ser humano papel de extrema importância no contexto social e histórico para o desenvolvimento das civilizações passadas, atuais e futuras, mesmo esta sendo muitas vezes colocada como contrária à ciência, considerada muitas vezes como uma criação da humanidade para diminuir a angústia, a incerteza do futuro da humanidade, como por exemplo, a morte. Assim identidades culturais e religiosas forneciam coordenadas claras e estáveis de como agir em sociedade.

Mas, mesmo que a religião seja para muitas pessoas uma derivação fantasiosa, ou uma ilusão, criada para responder às questões inexplicáveis sobre a vida do homem, temos que ter bem claro sua importância no contexto social, mesmo que seja ela observada como uma forma de controle social, ou como uma forma de castração, impedindo o homem de se expressar de forma natural, dentro daquilo que lhe é instintual.

Mas hoje em dia, o que no homem é instinto? Não somos nós seres culturais? A religião não é uma expressão cultural, já que se caracteriza diferentemente em cada região do planeta?

Assim sendo, tendo a religião como uma expressão cultural que se caracteriza como um “laço entre o ser humano e o divino”, e se a religiosidade nos diz que, “somos imagem e semelhança de Deus”, a religião nos deve servir para melhorarmos nossa estimativa de futuro, sendo que temos algo superior que nos protege, melhorarmos nossos relacionamentos interpessoais, pois estamos lidando com nosso semelhante, e melhorarmos também nosso convívio social através do cumprimento dos preceitos morais, favorecendo o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

Portanto, é preciso ter bem claro que a religião deve oferecer ao homem um ponto de apoio à sua saúde mental, ajudando-o a conviver em sociedade, transformando a Fé em esperança por dias melhores e oferecendo conforto nos momentos difíceis da vida. Mas, os benefícios da religiosidade só serão alcançados se a religião levar o sujeito a uma atitude religiosa que lhe seja própria e não imposta, respeitando sua individualidade, ajudando-o assim na manutenção de sua saúde mental e favorecendo assim o descobrimento de seu verdadeiro “eu”, não o tornando um escravo das doutrinas e dogmas que possam aliená-lo e atrapalhar seu desenvolvimento pessoal. O que hoje em dia, é causa de vários transtornos da personalidade entre fieis fanáticos.

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Qual a importância da religião na sociedade

Edivaldo Tagliari
é psicólogo (CRP/SP – Clínica Espaço Psykhé – Pós Graduando em Saúde Mental, Psicanálise, Grupalidade e Intervenção em Instituições pelo CEFAS – Campinas)

“A fé capacita-nos para ver o invisível, abraçar o impossível, e dá esperança no incrível." - Reverendo Samuel Rodriguez [1]

O nosso mundo moderno oferece-nos mais opções e possibilidades do que nunca antes. A ciência e a tecnologia ampliam continuamente o nosso conhecimento, e a diversidade de visões religiosas no mundo continua a crescer. Os nossos horizontes parecem estender-se mais longe e mais rápido do que nós somos capazes de assimilar. Mas, no final, continuamos a ser as mesmas criaturas espirituais. Ao longo das nossas viagens o anseio interior perdura.

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As religiões partilham uma visão comum: há algo de incompleto sobre nós. E assim ansiamos pela plenitude. Se cada pergunta tivesse uma resposta pronta, não seriam necessárias as orações. Se toda a dor tivesse uma cura fácil, não haveria sede de salvação. Se cada perda fosse restaurada, não haveria desejo de alcançar o céu. Enquanto estas necessidades permanecerem, também permanecerá a religião. É uma parte natural da vida. Ser humano significa experimentar a incerteza, o sofrimento e a morte. A religião, no entanto, é uma escola para fazer com que o caos faça sentido, é um hospital para curar as feridas invisíveis, uma tábua de salvação que nos dá uma segunda hipótese.

Acerca deste ponto, o Rabi David Wolpe ensinou que a religião "tem a capacidade de penetrar num mundo onde existe grande dor, sofrimento e perda, e trazer à tona significado, propósito e paz. "[2]

Embora a religião atenda a essas necessidades, não foi criada por causa delas. A religião não é apenas uma resposta ao sofrimento humano. É transcendente ao ser humano, ela provém de uma fonte superior. A história mostra que homens e mulheres, nos bons e nos maus momentos, buscam a verdade fora de si mesmos, bem como dentro de si. E seguem as respostas que recebem.

Além disso, a religião é a reunião de pessoas únicas numa comunidade de crentes. Mas se a religião ganhar o coração de apenas uma só pessoa, não consegue sustentar a comunidade. As experiências espirituais de cada indivíduo podem ser tão diferentes quanto os próprios indivíduos. Por "vermos através de um vidro escuro," [3] a maioria das coisas na vida desce até à fé. Em última análise, em todos os momentos de procura do divino, é o indivíduo que filtra os detalhes, pesa a evidência, e decide sobre os assuntos de maior importância.” Esta disputa é o processo da fé. Ludwig Wittgenstein escreveu: "Crer em Deus significa ver que os factos do mundo não são o fim da questão." [4]

A vida humana é sobre significados. A nossa natureza leva-nos a perguntas do foro espiritual e do propósito da vida. A Religião oferece um espaço onde as respostas e os significados podem ser procurados, encontrados e finalizados. Essa ligação entre a religião e o propósito continua até hoje.

Quer se trate de estilos de vida saudáveis, de confiança social ou de doações de caridade, as ciências sociais atestam acerca de uma infinidade de formas em que religião beneficia os indivíduos. De acordo com um estudo recente, por exemplo, "aqueles que demonstram estar confiantes na existência de Deus revelam possuir um maior sentido do seu propósito.” [5]

Isto é particularmente relevante hoje em dia. O nosso encontro com a vida moderna muitas vezes é um flash de imagens que brilham e desaparecem - tão rico à superfície, tão negligenciado nos alicerces. Mas a religião e a espiritualidade inspiram a escavações mais profundas e ligam-nos aos fundamentos morais que sustentam o melhor da nossa humanidade partilhada.

Ao longo da sua vida, Will Durant, um historiador de ideias e de culturas, ficou maravilhado com o poder da fé religiosa. Ele próprio, no entanto, não tinha nenhuma crença definitiva a respeito de Deus. No final da sua vida de aprendizagem e de observação, voltou a sua atenção para o significado da igreja. Nas suas reflexões, demostrou que mesmo uma pessoa agnóstica pode sentir o apelo permanente da religião quando perante o desconhecido:

“Estes pináculos das igrejas, apontando para o alto em todos os lugares, ignorando o desespero e promovendo a esperança, estas torres altas da cidade, ou simples capelas nas colinas - sobem a cada passo da Terra para o céu, em todas as aldeias de todas as nações, desafiando a dúvida e convidando os corações cansados para serem consolados. Será tudo uma vã desilusão? Não há nada além da vida, a não ser a morte, e nada além da morte, a não ser a decadência? Não podemos saber. Mas enquanto o homem sofrer, estes pináculos permanecerão.”[6]

Instituições e ideias florescerão enquanto satisfazerem as necessidades reais e duradouras. Caso contrário, tenderão a morrer de “causas naturais”. Mas a religião não morreu. Na década de 1830, ao escrever num momento, em que o seu país natal, a França, estava a desligar-se da religião, Alexis de Tocqueville escreveu que "a alma tem necessidades que devem ser satisfeitas."[7] Ele provou estar correto. Ao longo dos séculos, as tentativas de silenciar estas necessidades falharam. A Religião fornece a estrutura para esse anseio, e as igrejas são a casa da família da fé.

Apesar de serem construídas de madeira, pedra e aço, as igrejas representam algo profundo da alma humana, algo que almejamos descobrir. Mais do que qualquer coisa feita pelo homem, a religião dá sentido e forma à busca individual pelo significado.

 

[1] Samuel Rodriguez, “Religious Liberty and Complacent Christianity,” (“A Liberdade Religiosa e o Cristianismo Complacente)," The Christian Post, 10 de setembro, 2013.

[2] “Why Faith Matters: Rabbi David J. Wolpe (A Importância da Religião: Rabbi David J. Wolpe) palestra proferida na Universidade de Emory, 21 de outubro, 2008.

[4] Ludwig Wittgenstein, estrato do diário pessoal (8 de Julho, 1916). P.74e

[5] Stephen Cranney, “Do People Who Believe in God Report More Meaning in Their Lives? The Existential Effects of Belief,”(“As pessoas que acreditam em Deus revelam possuir um maior sentido do propósito das suas vidas? Os efeitos existenciais da crença”), Jornal para o Estudo Científico da Religião, 4 de setembro, 2013.

[6] Will e Ariel Durant, Dual Autobiography (NovaYork: Simon & Schuster, 1977).

[7] Alexis de Tocqueville, Democracy in America (Chicago, Illinois: University of Chicago Press, 2000), 510.

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