Quem foram os artistas da Semana de Arte Moderna

Falar sobre os artistas da Arte Moderna significa falar sobre o maior evento que marcou a história da arte brasileira. Tal evento, conhecido como a Semana de Arte Moderna, ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922.

Partindo dessa data (1922), começamos a compreender os reais propósitos firmados mediante o histórico acontecimento. Afinal, por que 1922? Essa é a data em que o Brasil comemorou seu primeiro centenário da Independência, embora essa independência em nada tenha transformado os planos político, econômico ou cultural. Dessa forma, desde o período que antecedeu a Semana de 1922, conhecido como Pré-Modernismo, houve uma reação por parte da classe artística em revelar um Brasil visto sob o plano real, longe do idealismo pregado pela era romântica. Um Brasil dos marginalizados, indo desde o sertão nordestino até os subúrbios cariocas. Não por acaso, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, entre outros, souberam expressar sua insatisfação mediante as mazelas que corrompiam a sociedade daquela época – de um lado o progresso industrial oriundo da expansão do capitalismo, de outro a massa dos excluídos, formada pela classe operária que, cada vez mais organizada, realizava intensas greves. 

Nesse clima de euforia, imbuídos no propósito de operar mudanças, sobretudo influenciados pelos movimentos vanguardistas, é que os artistas expressaram seus posicionamentos ideológicos por meio de suas criações, seja na pintura, música, escultura, literatura, entre outras formas de arte. Nesse sentido, vejamos os dados biográficos inerentes a alguns deles, a começar por:

Di Cavalcanti

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, filho de Frederico Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Rosalia de Sena,
nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, e faleceu em 1976 naquela mesma cidade. Seu talento artístico começara em 1908, em São Cristóvão, bairro de classe média para o qual a família se mudara.

Anos mais tarde, em 1914, iniciou sua carreira de caricaturista. Em 1916, matriculou-se na escola Livre de Direito, mudando-se para São Paulo e levando consigo uma carta de Olavo Bilac para o jornalista Nestor Rangel Pestana, crítico de arte do Estadão. Com isso, empregou-se como arquivista no jornal O Estado de São Paulo.

Di Cavalcanti foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, participando da criação dos catálogos e dos programas, além de ter exposto doze pinturas. Entre sua vasta obra, podemos citar:

Viagem da Minha Vida – O Testamento da Alvorada (1955) e Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca (1964).

Ilustrou numerosos livros, entre os quais: Carnaval, de Manuel Bandeira, 1919; Losango Cáqui, de Mario de Andrade, 1926; A Noite na Taverna e Macário, de Alvares de Azevedo, 1941; etc.

Executou murais em Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo e editou álbuns de gravuras, tais como Lapa, xilogravuras, 1956; Cinco Serigrafias, 1969 e Sete Flores, com texto de Carlos Drummond de Andrade, 1969.

Ismael Nery

Ismael Nery nasceu em Belém do Pará em 1900 e faleceu em 1934 na cidade do Rio de Janeiro. Esse artista não defendia a ideia de nacionalidade como os artistas de sua época; ao contrário, estendia sua expressão artística em seu sentido mais amplo, entrelaçando todas as correntes de pensamento. Sua carreira como pintor não lhe rendeu o merecido reconhecimento por parte do público, uma vez que não chegou a vender mais que uma centena de quadros, expostos somente em dois eventos. Ao contrário de sua produção enquanto desenhista, que, segundo a opinião de especialistas, era melhor que sua pintura.  

Costuma-se dividir a obra desse nobre artista em três vertentes: a expressionista, indo de 1922 a 1923; a cubista, de 1924 a 1927, sob forte influência de Pablo Picasso; e a Surrealista, demarcada de 1927 a 1934, sua fase mais importante e promissora.

Lasar Segal

Lasar Segal nasceu em 21 de julho de 1891, na cidade de Vilna, capital da Lituânia. Faleceu em 2 de agosto de 1957 na cidade de São Paulo, deixando um vasto acervo que enfatiza não somente a beleza, mas sobretudo a miséria que presenciara durante toda sua jornada. Para Segal a pintura estática não lhe satisfazia, haja vista que nela era preciso fazer algumas distorções de modo a retratar a realidade – propósito esse que o levou a aproximar-se do Expressionismo. Depois de rápida estada na Holanda, partiu para o Brasil, onde organizou duas exposições: uma em São Paulo e outra em Campinas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Mais que um pintor, considerado também como um verdadeiro sociólogo, Lasar Segal tinha obsessão pelo ser humano e, por meio dos pincéis, retratou os problemas brasileiros, revelados por cenas familiares, dando ênfase ao interior pobre das casas, bem como aos rostos sofridos de seus habitantes. Cenas essas que retratavam o conformismo de uma sociedade considerada imutável.

Assim sendo, utilizava em suas obras não somente óleo sobre tela, mas também processos de gravura que aprendera na Rússia, tais como a litogravura e a zincografia, os quais conferiam à sua arte um caráter puramente versátil.

Atingido por um ataque fulminante, veio a falecer. Contudo, sua vasta obra permaneceu viva, por meio de um acervo com 2500 obras, local onde funciona uma Biblioteca organizada por sua mulher – escritora e tradutora.

Milton Dacosta

Milton Dacosta nasceu em 1915, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e faleceu em 1988, na cidade do Rio de Janeiro. Aos 14 anos conheceu Augusto Hantz, um professor alemão com quem teve as primeiras aulas de desenho, matriculando-se no ano seguinte na Escola de Belas Artes, frequentando o curso livre ministrado por Augusto José Marques Júnior.  

Em 1936, após realizar uma mostra individual, Dacosta se sentiu motivado a se inscrever no Salão Nacional de Belas Artes. Ao expor seus trabalhos, recebeu menção honrosa, ganhando medalha de bronze e prata. Em 1944 recebeu o cobiçado prêmio de uma viagem ao exterior, viajando em 1945 para os Estados Unidos ao lado da pintora Djanira, e de lá seguiu para Paris, onde permaneceu por dois anos.     

A pintura desse artista, evoluída aos poucos, atingiu grandes patamares. Primeiramente se identificou com o Impressionismo, indo sequencialmente para o Expressionismo, Cubismo, Concretismo, e voltando para o Cubismo novamente, por opção definitiva. Casou-se em 1949 com a também pintora Maria Leontina, cuja união perdurou por 37 anos. Juntos participaram de Bienais, viajaram para o exterior para cursos de aperfeiçoamento, e juntos cresceram na missão de tornar o mundo ainda mais belo por meio de seus trabalhos.

Anita Malfatti

Anita Catarina Malfatti nasceu em 2 de dezembro de 1889, em São Paulo. Filha de Samuel Malfatti e de Elisabete, era pintora, desenhista e falava vários idiomas, o que lhe rendia uma habilidade cultural vasta. 

Chegando a Berlim, em setembro de 1910, começou a tomar aulas particulares no ateliê de Fritz Burger, matriculando-se um ano depois na Academia Real de Belas-Artes. Em 1916 retornou ao Brasil, já com 27 anos, disposta a expressar toda sua arte, especialmente voltada para o Expressionismo. 

Assim, por meio de influências de seus amigos modernistas, em especial por Di Cavalcanti, Anita decidiu locar uma das dependências do Mappin Stores e realizar uma única apresentação de seus trabalhos, em 12 de dezembro de 1917. 

O que não sabia era que o destino, de forma irônica, lhe reservara um grande infortúnio. Monteiro Lobato, por meio de seu artigo Paranoia ou mistificação, criticou a duras penas o trabalho da artista. Tal intento não era destinado a ela em especial, mas aos modernistas propriamente ditos. O fato lhe abalou profundamente e a fez carregar pelo resto de sua vida um sentimento de total descontentamento frente às coisas que a rodeavam. Seu primeiro instinto foi o de abandonar de vez a arte, contudo passou a tomar aulas com o mestre Pedro Alexandrino, fato que lhes concedeu uma proveitosa e duradoura amizade.

Motivada por amigos, resolveu participar da Semana de Arte Moderna de 1922 e, no ano seguinte, viajou para Paris, munida de uma bolsa de estudos, onde encontrou Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Vitor Brecheret e Di Cavalcanti. Retornou depois de algum tempo ao solo brasileiro, já com a confiança recuperada, no entanto não estava mais disposta em se aventurar em novas “investidas culturais”.  

Anita veio a falecer em 6 de novembro de 1964 em Diadema, estado de São Paulo, local em que morava com sua irmã Georgina, em uma chácara.  

Por Vânia Duarte

Graduada em Letras

Este ano comemora-se o centenário da semana de Arte Moderna, que ocorreu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922.

Trata-se de um evento liderado por membros da elite paulistana, entre eles artistas, escritores, literatos e musicistas.

Todo esse grupo intelectual havia se reunido com o objetivo de pensar a cultura brasileira e de quebrar paradigmas de uma arte de teor conservador, predominante no Brasil até o século XIX.

Principalmente influenciados pelo fim da Primeira Guerra Mundial, a ideia desses artistas era a de valorizar a cultura brasileira.

Ao mesmo tempo, eram inspirados por movimentos artísticos e culturais, que estavam acontecendo na Europa naquele momento.

O contexto histórico, político e social da época

No início do século XX inúmeras mudanças ocorreram no modo de vida Europeu. E a arte acompanhou essas mudanças.

Dentro desse contexto, a vanguarda artística por lá se destacou e com ela foi consolidada a modernidade.

O Brasil, por sua vez, havia acabado de começar a se modernizar, e com isso, as primeiras indústrias começaram a se instalar na cidade de São Paulo.

Sobretudo, a produção de café no interior paulista passou a gerar receitas de exportação, transformando assim o Estado no novo polo econômico do Brasil.

Vale lembrar que em 1922 foi o centenário da independência do Brasil. Como tal, o cenário se mostrava ideal para um renascimento artístico nacional.

O país ao passar por uma transformação e a modernização, necessitava de uma nova perspectiva artística, sociocultural e filosófica.

Com isso, houve a proposta de uma arte nacional original e atualizada, que trouxesse reflexões sobre a realidade e a diversidade cultural, característica predominante no território brasileiro.

Desse modo, influenciados pelas artes europeias e pelo mundo artístico ocidental, esses artistas e intelectuais brasileiros uniram esforços para apresentar seus trabalhos ao público.

Tornando a capital paulista no palco do evento da Semana de Arte Moderna, que contou com o patrocínio de diversos membros industriais que estavam ali reunidos.

Principais artistas da Semana de Arte Moderna e suas obras

Oswald Andrade, Mário Andrade, Manuel Bandeira, Emiliano Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos, foram alguns dos que fizeram parte das exposições artísticas e culturais dentro desse contexto da Semana de Arte Moderna.

Destacaremos a seguir alguns artistas e seus trabalhos apresentados no evento, bem como mostraremos onde é possível encontrar ou visitar essas obras.

Anitta Malfatti

A paulistana Anita Malfatti, além de pintora também era desenhista, gravadora, ilustradora e professora.

Apesar do silenciamento grande de artistas mulheres brasileiras na História, sem dúvidas Anita conseguiu alcançar reconhecimento por ter sido pioneira na introdução da estética modernista no país.

Sua relevância pode ser medida principalmente pelo destaque que teve na programação da Semana de Arte Moderna de 1922.

Anita foi a artista com maior representação na exposição, tendo 12 pinturas a óleo e outras 8 obras, que variaram desde gravuras a desenhos.

Uma das obras da artista que foi exposta durante a semana de 1922 foi “O Aluno”, obra de 1915.

A pintura faz parte do acervo do MASP (Museu de Arte São Paulo Assis Chateaubriand). A entrada no museu é gratuita todas as terças e primeiras quartas-feiras de cada mês.

John Graz

John Graz foi um pintor suíço-americano, formado no curso de arquitetura, decoração e desenho.

Por muito tempo se envolveu em projetos de decoração de residências, também desenhava vitrais e fazia ilustrações para cartazes publicitários.

Além disso, Graz foi convidado a expor 07 de seus trabalhos na Semana de Arte Moderna.

Entre eles estava o ‘Retrato do Desembargador Gabriel Gonçalves Gomide’, obra de 1917, ser pode ser encontrada e visitada atualmente no MASP, em São Paulo.

Heitor Villa-Lobos

O compositor carioca Heitor Villa-Lobos teve grande destaque na Semana de Arte Moderna de 1922. Ele foi um dos mais importantes compositores brasileiros de sua época e apresentou seu trabalho em dois dias de apresentação.

No entanto, foi o terceiro dia de que se apresentou no Theatro Municipal que ficou para a história.

Antes mesmo iniciar a apresentação, o maestro causou uma das maiores polêmicas da semana, quando apareceu com um pé calçando sapato e no outro um chinelo.

Sua atitude foi classificada por muitos como rude e atraiu muitas vaias e críticas do público. Entretanto, mais tarde descobriu-se que o compositor sofria de calos que o deixavam incapaz de usar os sapatos.

As obras do compositor que foram apresentadas incluem “Segunda Sonata”, “Danças Africanas”, “Mistic Waltz”, “Cascavel”, “Terceiro Quarteto” e muito mais.

Você pode conferi-las em serviços de streaming como Spotify ou mesmo no YouTube.

Além disso, é possível desfrutar de suas obras espaço Ouvillas, que está localizado dentro do Parque Villa Lobos, em São Paulo.

Como foi o evento da Semana de Arte Moderna de 1922?

A Semana de Arte Moderna foi um divisor de águas para a cultura brasileira, e propôs uma nova visão artística e uma ideia “mais brasileira” ao contexto da época.

No entanto, vale ressaltar que nem todos gostaram e aprovaram a proposta trazida pela Semana de Arte Moderna de 1922, pois o evento foi alvo de muitas críticas e polêmicas.

De 13 a 17 de fevereiro, o Theatro Municipal de São Paulo teve aberto à visitação. Em seu salão, instalaram uma exposição de pinturas e esculturas.

Obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e outros trabalhos que foram apresentadas ao público brasileiro na época, que não estava acostumado com as novas formas de expressão propostas pelo modernismo.

Além disso, o evento contou com apresentações musicais, noites literárias, leituras de poesia.

A Semana de Arte Moderna de 1922 chocou a sociedade por trazer uma ruptura com o passado, uma busca pela liberdade de expressão e uma nova visão sobre os processos artísticos.

Por isso o evento ao longo do século XX passou a ser considerado um marco histórico e início do modernismo brasileiro.

Quem foram os artistas da Semana de Arte Moderna

Redação do Projeto Brasil 1922 a 2022.