Por que precisamos conhecer as características das vanguardas para entendermos o modernismo

São chamadas vanguardas europeias as diversas tendências artísticas que floresceram no continente europeu no início do século XX e que acabaram por influenciar todo o mundo ocidental. Em busca de uma ressignificação do que era considerado arte, os artistas das vanguardas romperam com todas as tradições anteriores, fazendo diversas experimentações com materiais e técnicas diversos, consolidando o caminho para o surgimento da chamada arte moderna. São elas:

  • Futurismo
  • Surrealismo
  • Cubismo
  • Expressionismo
  • Dadaísmo

“Vanguarda” é o nome dado às tropas militares que vão à frente em um exército, àqueles que são os primeiros – por isso a palavra metaforicamente também significa “pioneirismo”, justamente o que esses artistas representaram.

“O grito”, de Edvard Munch, foi uma das obras precursoras das vanguardas europeias, trazendo a ruptura com as artes tradicionais.

Contexto histórico

O início do século XX foi marcado por uma grande mudança de paradigma na Europa. A Segunda Revolução Industrial havia popularizado grandes invenções, como a luz elétrica e o carro movido a gasolina, além da produção em larga escala de bens de consumo, acelerando o ritmo da vida como um todo.

As cidades cresciam, graças à industrialização, tornando-se grandes metrópoles. As ciências avançavam: Einstein publicava sua teoria da relatividade, em 1905, e Freud propunha uma análise dos processos mentais, o que desembocou no surgimento de uma nova ciência, a psicanálise, entre outras descobertas.

Era o alvorecer de uma nova era, com uma nova mentalidade e maneira de viver e perceber o mundo. A arte, portanto, precisava também se modificar para ser capaz de apreender essa postura atual da modernidade. Além disso, a fotografia, invenção do século XIX, aprimorava-se cada vez mais, o que tornava dispensável uma arte meramente mimética, e o cinema também despontava como novo formato artístico.

Esse ambiente tecnologicamente efervescente, contudo, não proporcionou o fim da fome e da miséria, por exemplo, nem foi capaz de solucionar os problemas da humanidade. Ao contrário, foi palco de um conflito tenebroso, de proporções nunca antes vistas: a Primeira Guerra Mundial [1914-1918], evento que sacudiu diretamente os últimos movimentos das vanguardas, dando aos artistas uma postura ainda mais questionadora da tradição e do entusiasmo com a modernização ascendente do período.

Veja também: Semana de Arte Moderna de 1922, a inauguração da arte moderna brasileira

Quais são as vanguardas europeias?

Cada uma das vanguardas tem especificidades e desenvolveu-se como um movimento próprio, cujo eixo em comum era a renovação estética, que repudiava o gosto e a cultura que dominavam a arte até então. Outra coisa que tinham em comum era o estreitamento entre as diversas formas de arte – escritores, escultores, pintores, músicos, arquitetos e poetas conviveram e produziram em conjunto nos movimentos de vanguarda, que têm, cada um, suas peculiaridades. Foi a época dos “ismos”, em que cada tendência estética buscou uma nova forma de expressão.

  • Expressionismo: entendida como a primeira vanguarda, valorizava a arte primitiva e a gravura. Foram os primeiros a postular que a arte não deveria seguir uma representação mimética da realidade, algo em comum com todas as outras vanguardas. Para os expressionistas, a arte deveria expressar a realidade subjetiva, que parte da percepção de cada um. Figuras deformadas, cores vibrantes e estética do grotesco são algumas de suas características.
Paisagem chuvosa, de Wassily Kandinsky. Pioneiro do movimento abstracionista e também pertencente à estética expressionista.
  • Futurismo: contaminados pelo entusiasmo da modernização acelerada das cidades que se tornavam metrópoles, os futuristas cultuavam a velocidade, a máquina, as invenções, glorificando o mundo moderno industrializado e propondo experimentos estéticos que refletiam essa aceleração e dinamismo. Entusiastas também do patriotismo, muitos de seus seguidores acabaram por apoiar declaradamente o fascismo italiano, de Benito Mussolini.
  • Surrealismo: impulsionados pela teoria psicanalítica de Freud, os surrealistas propuseram uma arte que aborda o universo onírico e do inconsciente, abolindo as fronteiras entre o sonho e a realidade, entre a lucidez e o delírio. O surrealismo proporcionou novas técnicas de composição artística, valorizando os processos não racionais do cérebro em oposição à objetividade cientificista, mecanicista e hiperlógica.
  • Cubismo: em busca da ruptura com a tradição artística consolidada e em consonância com a nova realidade industrial, em que o tempo é mais acelerado, os cubistas tinham como principal característica o banimento da perspectiva plana e a geometrização das formas. Diferentes perspectivas sobrepõem-se, inovando as artes plásticas e a literatura, fazendo uso da técnica da colagem e da representação de diversas perspectivas ao mesmo tempo.
Retrato de Pablo Picasso, grande nome do cubismo, de autoria de Juan Gris, também cubista.
  • Dadaísmo: provocador, inovador e arrojado, os dadaístas foram bastante impactados pela catástrofe e matança generalizada da Primeira Guerra Mundial, que incutiu nos artistas um desprezo ainda maior pela cultura tradicional. Abolindo as leis da lógica e tendo como lema “a destruição também é criação”, o dadaísmo foi, das artes de vanguarda, a que mais valorizou a ruptura, negando todos os valores vigentes, todas as regras e todas as tradições, propondo uma “antiarte”.

Leia também: Modernismo: o período literário altamente influenciado pelas vanguardas

Resumo

  • As vanguardas europeias foram tendências artísticas que tomaram a cena na Europa no início do século XX;
  • Foram movimentos de ruptura com a arte tradicional;
  • A proposta era libertar a arte e a cultura das amarras e parâmetros estabelecidos até então;
  • Resultaram dos avanços e mudanças promovidos pela massiva industrialização e urbanização da Europa: a aceleração, a eletricidade, a máquina, tudo modificava o modo de viver da humanidade e exigia, portanto, uma nova maneira de fazer arte;
  • Espalharam-se por todo o mundo ocidental, influenciando a consolidação da arte moderna em diversos países, incluindo o Brasil;
  • Cada um dos movimentos da arte de vanguarda tinha suas próprias características: foi a época dos “ismos”;
  • Expressionismo, cubismo, futurismo, dadaísmo e surrealismo foram os principais movimentos das vanguardas europeias.

Exercícios resolvidos

1] [ESPM]

Centrando-se, assim, no moderno, [...] faziam apologia da velocidade, da máquina, do automóvel [“um automóvel é mais belo que a Vitória de Samotrácia”, dizia Marinetti no seu primeiro manifesto], da agressividade, do esporte, da guerra, do patriotismo, do militarismo, das fábricas, das estações ferroviárias, das multidões, das locomotivas, dos aviões, enfim, de tudo quanto exprimisse o moderno nas suas formas avançadas e imprevistas.

[Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários, Cultrix, p.234]

O texto acima define um dos primeiros “ismos” das vanguardas artísticas europeias que sacudiram o século XX. Trata-se do:

a] Cubismo b] Futurismo c] Surrealismo d] Dadaísmo

e] Impressionismo

Solução

Alternativa b:  O futurismo era o movimento de vanguarda que glorificava a máquina, a velocidade e o avanço industrial como horizonte de progresso humano.

2] [PUC-Campinas]

O termo vanguarda designava originalmente a posição dos guerreiros que iam à frente, nas batalhas. Mais tarde, já no campo da arte, passou a identificar a posição de criadores que, preocupados com uma completa inovação estética, buscavam adiantar-se ao seu tempo e propunham, quando não impunham, novos paradigmas para a linguagem artística. No Brasil do século XX há que se destacar o papel de vanguarda cultural e artística do movimento modernista de 22, por sua vez inspirado por vanguardas europeias, e a radical atuação vanguardista dos poetas concretos, cujos manifestos datam da década de 50 − década em que a economia e a política nacional também buscaram modernizar-se.

[Alcebíades Valongo, inédito]

A prosa de Guimarães Rosa, não obstante esteja profundamente marcada pelo universo rústico do sertão e de suas personagens, apresenta um forte componente de vanguarda quando

a] introduz no discurso prosaico versos e cantigas de extração popular. b] remonta a mitos, lendas e sagas do universo clássico. c] apoia-se em diálogos caracterizados pelo realismo das falas cotidianas. d] se vale de uma linguagem que surpreende o leitor com inéditos e criativos recursos.

e] traduz para a norma culta a linguagem simples e espontânea do povo.

Solução

Alternativa d: A herança das experimentações das vanguardas reverberou-se por todo o nodernismo do século XX, como podemos perceber nessa criação de uma nova linguagem na prosa de Guimarães Rosa.

Bài mới nhất

Chủ Đề